Título: China socorre seus 4 maiores bancos
Autor: Trevisan, Claúdia
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/10/2011, Economia, p. B1

Injeção de capital foi feita por meio do fundo soberano do país; operação semelhante foi realizada em 2008, após a quebra do Lehman Brothers

O governo de Pequim anunciou ontem que injetou capital nos quatro maiores bancos chineses, que emprestaram volumes recordes nos últimos dois anos e agora enfrentam o risco de aumento dos créditos podres em seus balanços. Os recursos foram transferidos às instituições financeiras por meio de compra de suas ações no mercado secundário pela Central Huijin Investment, o fundo soberano do país que atua no mercado doméstico.

A última vez em que o fundo realizou operação semelhante foi em setembro de 2008, logo depois que a quebra do Lehman Brothers desencadeou a crise financeira global. Segundo a agência oficial de notícias Xinhua, a injeção de capital tem o objetivo de "apoiar a estável operação e desenvolvimento das principais instituições financeiras e estabilizar o preço de suas ações". O governo não revelou o valor do socorro aos bancos.

O anúncio foi realizado no fim da tarde de ontem, depois de a Bolsa de Xangai fechar no nível mais baixo em 30 meses, influenciada em grande parte pelo mau desempenho das quatro grandes instituições estatais beneficiadas pela medida -Industrial and Commercial Bank of China (ICBC), Bank of China, China Construction Bank e Agricultural Bank of China.

O mercado de Hong Kong ainda estava em operação e reagiu com a compra de ações das quatro empresas, cujas cotações subiram rapidamente nos últimos minutos do pregão.

O aumento dos empréstimos concedidos pelos bancos chineses foi o principal combustível para a explosão de investimentos, que garantiu crescimento de 9,2% e 10,4% em 2009 e 2010, respectivamente, em meio à estagnação dos países ricos.

Um terço do PIB. No ano seguinte ao início da crise, as instituições locais liberaram financiamentos no valor de US$ 1,4 trilhão, o equivalente a quase 30% do PIB naquele período. Em 2010, a cifra diminuiu para US$ 1,2 trilhão -ou 20% do PIB -, mas continuou bem acima da média registrada em anos anteriores.

A maior parte desses recursos foi canalizada para milhares de obras iniciadas em todo o país, em um esforço para manter o ritmo de crescimento acima dos 8% considerados o piso abaixo do qual o governo não consegue criar empregos suficientes para os trabalhadores urbanos.

O problema é que muitos desses projetos não são viáveis economicamente e não darão o retorno financeiro necessário para o pagamento dos empréstimos, o que ameaça a saúde dos bancos.

Outra fonte de estresse para o sistema financeiro é a dívida dos governos locais, grande parte da qual contraída nos últimos dois anos. Levantamento do Escritório Nacional de Auditoria concluiu que esse débito estava em US$ 1,65 trilhão no fim de 2010 -o equivalente a 25% do PIB - e que alguns governos locais não conseguirão pagar o que devem.