Título: O novo susto na Europa
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Fonte: O Estado de São Paulo, 06/10/2011, Notas e informações, p. A3

Com a ameaça de nova quebradeira no setor bancário, o sinal de alarme afinal parece ter soado com suficiente estridência para assustar os governos europeus e fazê-los mexer-se com maior rapidez. O alerta foi acionado pela virtual falência do banco Dexia, de controle franco-belga, já socorrido com 6,4 bilhões em 2008, ainda sobrecarregado com cerca de 20 bilhões em papéis gregos e italianos e abalado recentemente por 4 bilhões de prejuízo no segundo trimestre deste ano. A notícia do quase colapso do banco Dexia coincidiu com o novo rebaixamento da dívida italiana, mas seu impacto político, tudo indica, foi maior. O socorro ao setor financeiro foi o grande assunto das discussões entre ministros da zona do euro, ontem, e as principais bolsas europeias encerraram o pregão em forte alta depois das declarações da chanceler alemã, Angela Merkel, sobre o reforço de capital dos bancos.

"A Alemanha está pronta para se mover para a recapitalização", disse Merkel nessa quarta-feira. "Precisamos formular critérios e estar preparados para implementar rapidamente uma decisão." Um dia antes, o comissário europeu para Assuntos Econômicos e Monetários, Olli Rehn, havia mencionado "um senso de urgência" entre os ministros de Finanças do bloco, agora muito mais empenhados em cuidar do fortalecimento do setor bancário.

As perdas dos bancos europeus podem chegar a 300 bilhões, segundo estimativa publicada há poucas semanas pelo Fundo Monetário Internacional (FMI). Esse cálculo chega a parecer moderado, quando se examinam as condições de resgate do Dexia. Uma das possibilidades indicadas por autoridades francesas e belgas é a criação de um "banco ruim", garantido pelos governos dos dois países, com ativos de 120 bilhões, segundo algumas fontes, e de até 200 bilhões, segundo outras.

Também nessa quarta-feira o Fundo Monetário Internacional divulgou seu relatório especial sobre a Europa, mais detalhado que o material distribuído em setembro. A economia europeia deve crescer 2,3% neste ano e 1,8% no próximo, mas só se os governos agirem com firmeza para conter a crise. Sem isso, o desempenho econômico será pior, advertiu o diretor do Departamento Europeu do FMI, Antonio Borges. Além disso, as estimativas indicam uma piora geral das condições: depois de um primeiro trimestre melhor que o esperado, as taxas de crescimento dos vários países passaram a convergir para um nível mais baixo.

O Fundo reiterou sua lista de recomendações - de modo geral aceita pelos governos: ajuste rápido nos países com piores condições fiscais e políticas mais expansionistas, a curto prazo, naqueles com alguma folga para gastar e conceder incentivos. Além disso, o FMI reafirmou a urgência de capitalização dos bancos e de aprovação do novo modelo da Linha Europeia de Estabilidade Financeira (EFSF). Esse fundo, concordam os governos, participará do socorro aos governos em apuros e também do reforço do setor financeiro. Mas falta a aprovação da reforma por alguns Parlamentos.

A primeira opção dos bancos deverá ser a busca de recursos no mercado, segundo as autoridades, mas os governos deverão estar prontos para fornecer-lhes capital, se a participação dos investidores privados for insuficiente. O fundo de estabilização, com recursos iniciais previstos de 440 bilhões, poderá ser envolvido nessa tarefa.

Enquanto a situação dos bancos assusta os governos e cria uma sensação de urgência, continua a discussão sobre novas ações de ajuda à Grécia. A situação do país é pior que a projetada há alguns meses, com recessão mais grave e maior dificuldade para cortar o déficit público. Segundo Antonio Borges, os números do plano de socorro à Grécia estão obsoletos e será preciso atualizá-los. Além disso, será preciso dar mais ênfase ao crescimento, em vez de concentrar a atenção no ajuste das contas públicas. Essa proposta é uma importante novidade. Sem algum crescimento será inútil apertar o cinto, porque não haverá a receita mínima indispensável ao equilíbrio das contas, têm dito alguns analistas. O FMI parece ter comprado essa ideia.