Título: Falta de consenso no CS motivou abstenção
Autor: Chade, Jamil
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/10/2011, Internacional, p. A12

Ordem de não apoiar resolução que condenaria na ONU o governo sírio partiu de Dilma e irritou parte do Itamaraty

A falta de um consenso sobre o teor da resolução contra a Síria, derrubada anteontem no Conselho de Segurança das Nações Unidas, foi a justificativa para o Brasil, mais uma vez, abster-se na votação.

Apesar de o País ter sido um dos principais negociadores, a decisão de China e Rússia de vetar o texto, mostrando que não haveria acordo, levou o governo brasileiro a optar pela abstenção para mostrar que não estava de acordo com nenhum dos lados - chineses e russos contra os europeus que propuseram a resolução.

Em sua justificativa, a embaixadora do Brasil na ONU, Maria Luiza Viotti, lamentou não ter havido mais tempo para uma negociação até que se chegasse a um consenso. A decisão de se abster, no entanto, veio do Planalto: foi tomada em Bruxelas pela presidente Dilma Rousseff depois de um briefing do ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota. O chanceler explicou à presidente que não se havia chegado a um acordo e haveria um duplo veto. Também informou que os demais parceiros do Brasil no Ibas - Índia e África do Sul - iriam se abster.

Dilma avaliou ser melhor manter uma posição conjunta. A decisão incomodou parte do Itamaraty, que havia trabalhado no texto nas últimas semanas. A resolução votada foi ainda mais fraca do que aquela com que o Brasil havia concordado, onde estavam já previstas sanções e embargos. O texto final, amenizado para tentar cooptar os russos e chineses, sugeria a possibilidade de sanções futuras, mas nem mesmo esclarecia que medidas poderiam ser tomadas.

A posição defendida pelo chanceler brasileiro é que a abstenção é um voto pela manutenção do diálogo e que o Brasil vai continuar trabalhando para que haja consenso em torno de uma proposta. O problema é qual será ela. Não há possibilidade de acordo em um futuro próximo.

Um texto inicialmente sugerido pela Rússia não deve ser nem mesmo ser levado ao plenário. Se fosse, provavelmente teria efeito nulo, já que não fala em possibilidade de sanções.

Existe preocupação na diplomacia brasileira com os sinais que o Conselho de Segurança passaria ao fracassar na condenação à violência na Síria. Ontem, integrantes do governo Assad comemoraram a votação como uma "vitória histórica" na ONU. A possibilidade de contar sempre com o veto chinês e russo poderia dar ao governo sírio a ideia de que tem carta branca para agir.