Título: Moscou teme que copiem seus armamentos
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Fonte: O Estado de São Paulo, 06/10/2001, Internacional, p. A15

A base da parceria estratégica entre China e Rússia desde 1991, após o fim da União Soviética, é a cooperação militar. Segundo um relatório do Instituto Internacional de Pesquisas da Paz de Estocolmo (Sipri, na sigla em inglês), divulgado na semana passada, nas duas últimas décadas, cerca de 90% dos armamentos importados por Pequim foram comprados de Moscou.

Os chineses, entretanto, reduziram bruscamente o volume de importações bélicas da Rússia desde 2005. Fatores como a falta de repasse tecnológico russo, a qualidade dos armamentos, o temor de clonagem dos projetos pela China e a possível competição entre os dois países influenciaram nas negociações.

Anatoly Isaikin, diretor da agência russa responsável pelo comércio de armas, admite a queda na venda para os chineses. Em 2010, ano em que Moscou bateu o recorde de exportações bélicas (US$8,6 bilhões), a China apareceu atrás de Índia e Argélia no ranking de compradores.

China e Rússia fazem treinamentos militares conjuntos e frequentemente alinham-se diplomaticamente para defender seus interesses, principalmente para enfrentar a influência dos EUA. Segundo o relatório do Sipri, a tendência é que as relações sejam mais estreitas apenas nos níveis diplomáticos.

"A importância da Rússia para a China tende a continuar diminuindo", afirma o estudo, já que os chineses investem cada vez mais no desenvolvimento de sua própria indústria armamentista. A Rússia também não atenderia às novas demandas do Exército de Libertação Popular chinês.

Segundo o relatório, um dos principais motivos para Moscou não repassar seus avanços tecnológicos bélicos seria o temor de que a China os use para disputar o mercado internacional de armas. Manutenção e atualização de armas representam só 10% dos negócios bélicos russos.

Desde 2008, especialistas da indústria de armas alertam para o crescimento do plágio chinês de armamentos russos. Moscou já ameaçou processar Pequim por violação da legislação internacional de propriedade intelectual, que é negociado até hoje. Em 2009, chegaram num acordo para a produção chinesa de fuzis Kalashnikov.