Título: Dilma oferece ajuda do Brasil à Bulgária
Autor: Chade, Jamil
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/10/2011, Economia, p. B3

Presidente é recebida como líder de superpotência e tenta convencer os búlgaros que as empresas brasileiras podem investir no país

A bandeira da União Enropeia foi, peio menos ontem, substituída pela bandeira brasileira no portão do edifício da presidência da Bulgária. Um dia depois de dizer que o Brasil está pronto para ajudar a Europa a sair da crise, a presidente Dilma Rousseff assumiu uma postura de superpotência e tentou mostrar o que, na prática, faria para socorrer a Europa, e justamente no ponto mais fraco do bloco, a Bulgária.

No primeiro dia da visita de Dilma ao país de seu pai, a atitude foi correspondida pelo governo de Sófia e empresários locais. Tapete vermelho, honras militares, condecorações e famílias gritando o nome da brasileira pelas ruas fizeram parte do cenário.

O Palácio do Planalto tentou convencer os búlgaros de que as empresas nacionais estavam prontas para desembarcar no país, ainda que a realidade seja bem diferente. Dois acordos foram assinados e, num claro recado aos búlgaros, Dilma disse que a Marcopolo quer fazer parte das licitações no país e ela ficaria "muito satisfeita" se a empresa brasileira vencesse o contrato.

Outro sinal de ajuda seria aumentar a importação de produtos búlgaros, para ajudar as empresas locais. Para Dilma, será o mercado doméstico brasileiro em expansão que ajudará a compensar a queda nas vendas para o resto da Europa. "Estejam seguros que o Brasil é opção segura caso sejam afetados pela redução de parceiros tradicionais", avisou Dilma a empresários búlgaros, lembrando que um mercado de 190 milhões de pessoas é a verdadeira riqueza do País.

Numa sala lotada de empresários locais, o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel, disse que "o Brasil é o exemplo de um país que soube superar suas dificuldades. "Nós enfrentamos coisas semelhantes às que a Europa enfrenta hoje e superamos com sacrifício."

As lições da delegação brasileira não se resumiam à economia. No encontro com a presidência búlgara, Dilma mostrou como o País fez para reduzir a pobreza no Brasil e tocou na capacidade de integrar etnias, problema que a Bulgária sofre.

Mas foi a crise da dívida que permitiu a Dilma dar mais uma lição de como a estratégia de austeridade, resgates do FMI e cortes de salários não funcionará. "Insistem em velhas ideias. Muitas vezes o que gerou a crise é reafirmado como terapia para a combalida economia mundial."

Do lado búlgaro, o governo deu claros sinais de que espera que Dilma preencha o vácuo deixado pela Europa. Em discurso, o primeiro-ministro Boyko Borissov comemorou o fato de o Brasil surgir como "um aliado na busca por estabilidade mundial na época de crise" e anunciou que negocia a compra de 12 aviões da Embraer.

O presidente búlgaro, Georg Parvanov, também deixou claro que seu país aguarda a transformação em ação das promessas de Dilma. "Estamos vendo um Brasil muito empenhado com o futuro da UE e não podemos deixar de saudar essa atitude."

Apesar dos esforços de Dilma, a realidade é bem diferente. Em 2011, o comércio não chegou nem sequer a ¿ 50 milhões. Além da esperança da Marcopolo, a Embraer vendeu apenas quatro aviões e garante não saber de onde saiu o número de 12 jatos. Hoje, até o Chile e Peru vendem mais para a Bulgária que o Brasil.

Lições

DILMA ROUSSEFF

PRESIDENTE

"O Brasil é opção segura caso sejam afetados pela redução de parceiros tradicionais."

"Muitas vezes o que gerou a crise é reafirmado como terapia para a economia mundial"