Título: Reservas têm primeira queda em 30 meses
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Fonte: O Estado de São Paulo, 06/10/2011, Economia, p. B6

Mudança de estratégia do Banco Central fez o montante acumulado cair US$ 3,68 bilhões em setembro

Após 30 meses de aumento ininterrupto das reservas internacionais brasileiras, a mudança de estratégia do Banco Central com relação ao dólar fez com que a trajetória dos números mudasse de rumo: em setembro, o montante caiu US$ 3,68 bilhões na primeira redução mensal desde fevereiro de 2009. A queda coincide com o agravamento da crise financeira e com a decisão do BC de deixar de atuar como comprador da moeda estrangeira.

Depois de saltar impressionantes 89% desde o fim fevereiro de 2009, as reservas alcançaram a marca de US$ 353,46 bilhões no primeiro dia de setembro de 2011. Esse foi o maior valor das reservas internacionais do Brasil até hoje na história. Em 30 meses, as reservas aumentaram expressivos US$ 166,5 bilhões - ou cerca de US$ 5,5 bilhões a cada mês.

Mas, desde então, as reservas têm caído gradativamente com a mudança de atuação do BC e pelo efeito da valorização do dólar e da volatilidade dos ativos que compõem as reservas, em especial os títulos da dívida americana.

A retirada do BC na compra de dólares foi vista desde os primeiros dias de setembro, quando os leilões para aquisição da moeda passaram a ter volumes cada vez menores. Em 13 de setembro, aconteceu o último leilão de compra e, no dia seguinte, o Banco Central parou com as compras porque a oferta da moeda estava cada vez menor e a demanda entre os outros agentes do mercado crescia.

Sozinha, a decisão de interromper as compras da moeda não explica a queda das reservas em setembro. Sem comprar a moeda e também sem vender dólares, o montante deveria permanecer parado. Mas o volume é atualizado diariamente conforme o valor de mercado dos ativos que compõem as reservas. É isso que explica a queda em setembro.

No mês passado, enquanto a crise apertava os mercados, muitos investidores passaram a migrar recursos para os Estados Unidos atrás de um "porto seguro" para o dinheiro. A transferência valorizou a moeda americana em detrimento de outras divisas. Isso prejudicou as reservas já que cerca de 25% desse montante está em ativos fora dos Estados Unidos, como na Europa, Austrália e Japão. Investimentos nessas moedas, quando convertidos para dólar, ficaram menores nas últimas semanas.

Além disso, há a influência da volatilidade que recai sobre o preço dos títulos emitidos pelo Tesouro dos Estados Unidos, o principal ativo das reservas do Brasil. Outro fato que comprova a reversão da estratégia do BC foi visto em 22 de setembro. Naquela data, em meio à forte disparada das cotações que se aproximaram de R$ 2 por dólar, o BC anunciou que retornara à ponta "vendedora" da moeda com a oferta de contratos de swap cambial tradicional, que equivalem à venda da divisa no mercado futuro. Desde então, realizou três operações, sendo a última ontem. / F.N.