Título: EUA acusam cúpula do Irã de estar por trás de suposto plano terrorista
Autor: Chacra, Gustavo
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/10/2011, Internacional, p. A12

Os EUA subiram o tom ontem com o Irã e acusaram o alto escalão da República Islâmica de envolvimento no suposto plano para matar o embaixador da Arábia Saudita em Washington. A monarquia saudita também ameaçou Teerã, agravando a crise entre os dois países do Oriente Médio.

Os iranianos rejeitaram veementemente a acusação americana, acrescentando que o governo de Barack Obama busca desviar a atenção do movimento de ocupação de Wall Street.

A divulgação dos supostos planos, cuja veracidade é vista com enorme cautela por especialistas em política iraniana nos EUA, ocorre em meio a uma das mais graves crises envolvendo o regime de Teerã e a monarquia dos Saud. Aliados dos dois países estão em lados antagônicos em disputas em Bahrein, Síria, Iraque, Líbano e territórios palestinos.

De acordo com o porta-voz da Casa Branca, Jay Carney, o governo americano "sabe do envolvimento do alto escalão da força Al-Quds (unidade de elite do Irã)". Em seguida, completa: "Mas isso é o mais específico que posso ser".

A secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, acrescentou que "essas ações minam as normas internacionais". Hillary lembrou que a Casa Branca intensificou sanções a suspeitos de envolvimento no complô.

"Vamos trabalhar com os nossos aliados para aumentar o isolamento internacional do Irã e a pressão sobre o seu governo", prometeu a número 1 da diplomacia de Washington.

Em entrevista para a rede de TV ABC, o vice-presidente Joe Biden disse que "nenhuma opção pode ser retirada da mesa", ao ser questionado sobre a possibilidade de uma intervenção militar. No Congresso, alguns deputados e senadores também defendiam uma reação mais dura contra o regime de Teerã.

Membros do governo americano disseram ser "bem provável" que o aiatolá Ali Khamenei, líder supremo do Irã, tivesse conhecimento dos planos.

Rede secreta. Segundo os planos divulgados anteontem, a força de elite Al-Quds, ligada à Guarda Revolucionária do Irã, planejava matar o embaixador da Arábia Saudita em Washington, Adel al-Jubeir. Um suposto espião iraniano com cidadania americana, Manssor Arbabsiar, teria negociado o assassinato com um cartel de drogas mexicano, sem saber que seu interlocutor era um agente infiltrado dos EUA.

Em Londres, o príncipe Turki al-Faisal, que foi embaixador da Arábia Saudita em Washington, disse que "as provas indicam claramente o envolvimento iraniano". Segundo o saudita, "alguém no Irã precisará pagar o preço".

O governo em Teerã pediu esclarecimentos ao embaixador da Suíça, que representa os interesses americanos no Irã, e publicou comunicado dizendo que "condena as acusações falsas dos EUA". O aiatolá Khamenei foi mais longe. Afirmou que o objetivo dos EUA é interromper a ocupação de Wall Street. Elogiando o movimento, o líder supremo afirmou que "no fim o sistema capitalista entrará em colapso no Ocidente".

Analistas americanos estavam céticos com o suposto complô, considerado amador para uma força como a Al-Quds. Robert Baer, que foi o principal agente da CIA no Oriente Médio por décadas, afirmou à rede de TV ABC que o Irã costuma usar "pessoas como as do Hezbollah" para realizar essas operações, sendo "improvável o contato os mexicanos".