Título: Eslováquia fecha acordo para resgate
Autor: Chade, Jamil
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/10/2011, Economia, p. B4

Apos derrotar o projeto e conseguir derrubar o governo, oposição admite votar a favor do fundo europeu para socorrer países em dificuldade

Os 15 minutos de fama da pequena Eslováquia chegaram ao final, para o alívio de toda a Europa. Ontem, os partidos políticos chegaram ao que poderia ser um acordo para a aprovação do projeto de criação de um fundo europeu de resgate a países em dificuldades. A oposição, porém, conseguiu o que queria: a derrubada do governo, obrigando a formação de uma nova coalizão.

O fundo de resgate proposto pela União Europeia prevê o uso de ¿ 440 bilhões para blindar o continente e evitar que governos enfrentem crises como a da Grécia. No total, os 17 países que usam o euro teriam de aprovar o novo mecanismo para que ele entre em vigor. Dezesseis deles já haviam dado o sinal verde. Mas, na Eslováquia, a oposição decidiu usar a ocasião para fazer valer sua barganha política.

Na primeira votação, há dois dias, a oposição derrubou o projeto, alegando que não aceitaria que o contribuinte eslovaco destinasse ¿ 7,7 bilhões dos ¿ 440 bilhões do fundo para resgatar países mais ricos que ela. O governo, que tomou a votação como um teste de sobrevivência, acabou sendo obrigado a admitir a derrota, refazer o projeto de lei e abrir consultas para a formação de um novo governo.

A atitude dos políticos eslovacos foi alvo de duras críticas ontem em toda a Europa. Para diplomatas em Bruxelas consultados pelo Estado, o uso do resgate como instrumento político para atender a interesses locais é a prova de que a classe dirigente em muitos países não entendeu que a economia mundial pode cair em uma nova recessão se a Europa não resolver seus problemas.

Nas últimas semanas, Barack Obama, Dilma Rousseff, Vladimir Putin e líderes na Índia e na China cobraram da Europa uma resposta à crise e que os políticos locais assumissem suas responsabilidades.

Além disso, a hesitação na aprovação do plano dá um sinal aos mercados da fragilidade do compromisso europeu em superar a crise da dívida.

Ontem, depois de conseguir o que queria, o líder da oposição Robert Fico anunciou que votará a favor do fundo, numa votação amanhã em Bratislava, capital da Eslováquia. Bruxelas não deixou de fazer sua pressão, lembrando que os governos precisam ter o pacote ratificado até a cúpula do bloco, prevista para o dia 23 deste mês.

Com o pacote acordado, os partidos eslovacos abrem mais uma batalha, dessa vez sem repercussões nem mesmo nos países vizinhos: a formação de um novo governo. Ontem, os partidos iniciaram as negociações para a formação de uma nova coalizão em um país de apenas 5,4 milhões que, pelo menos por alguns dias, fez a Europa prender a respiração.