Título: Bolsas dos Brics formam aliança
Autor: Valle, Sabrina
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/10/2011, Economia, p. B8

A partir de 2012, investidores poderão aplicar nos principais índices de cada uma das bolsas de valores; acordo foi assinado ontem

Presidentes das principais bolsas de valores de países emergentes do mundo, incluindo a BM&FBovespa, se reuniram ontem na África do Sul para anunciar uma aliança sem precedentes que ampliará o acesso a esses mercados e deve fomentar as economias locais. A começar no primeiro semestre de 2012, investidores poderão aplicar, em moeda local, em uma série de produtos dos chamados Brics - Brasil, Rússia, Índia, Hong Kong (como representante inicial da China) e também África do Sul.

"Estamos unindo as economias mais dinâmicas do mundo em desenvolvimento", disse o presidente executivo da Bolsa de Hong Kong, Charles Li, citando um mercado de US$ 9 trilhões que reúne 9.481 empresas. "São países que cada vez mais direcionam o crescimento mundial e vêm ganhando importância econômica e política."

Demanda. A união, anunciada ontem durante a reunião anual da Federação Mundial de Bolsas em Johannesburgo, veio da percepção de que há uma clara demanda dos investidores a produtos de países emergentes. As bolsas viram uma oportunidade para esses mercados, em crescimento, se expandirem globalmente num momento em que os seus rivais, em mercados desenvolvidos na Europa e nos Estados Unidos, enfrentam desafios.

"A pista está livre para crescermos", disse o presidente da BM&FBovespa, Edemir Pinto. "É a internacionalização dessas bolsas. Os Brics viraram uma classe de ativos internacional."

A iniciativa que democratiza o acesso a mercados emergentes reúne a BM&FBovespa, a Micex russa, a National Stock Exchange of India (NSE), da Índia, a Hong Kong Exchange como o representante Chinês inicial, e a Johannesburg Stock Exchange (JSE), da África do Sul. A NSE e a BSE Ltd. (ex-Bombay Stock Exchange) já assinaram cartas de apoio e vão aderir à aliança após a finalização de algumas pendências.

Essas sete bolsas movimentam US$ 422 bilhões por dia, reúnem 18% do volume de contratos de derivativos negociados em bolsas no mundo, e têm uma capitalização (soma dos valores de mercado de todas as empresas cotadas) de US$ 9 trilhões.

A aliança será implementada em três fases, com a primeira contemplando a listagem cruzada dos principais índices dessas bolsas e de derivativos de índices, com produtos de futuros e opções. Isso significa que o Índice Ibovespa será lançado como produto nas bolsas dos Brics, assim como os principais índices dessas bolsas serão listados no Brasil, negociados sempre na moeda local do investidor. Essa fase será implementada entre meados e o fim do primeiro semestre de 2012.

"O investidor brasileiro, o administrador de recursos, os fundos de pensão, as fundações, o institucional, passam a ter uma possibilidade estratégica para sua carteira de investimentos", disse Edemir Pinto.

Também está sendo criado um índice único de países emergentes que combinará, de forma ponderada ainda em definição, todos esses outros índices já existentes. Também se estuda a criação de índices setoriais, como de empresas de mineração. A segunda fase não tem data programada.

"Coletivamente, como grandes produtores ou consumidores de commodities, miramos ganhar a influência em preço e em poder, globalmente, que merecemos", disse Li.

Na terceira fase, será desenvolvida uma série de novos produtos, que poderão incluir futuros e ETFs (negociado como uma ação, mas que reúne vários papéis). "Será uma aliança duradoura e perene", disse Pinto. "Essa aliança permite a construção de várias pontes, e uma delas é a possibilidade de dupla listagem. Pode acontecer, com algumas bolsas, e não no curto prazo."

Investidor. No Brasil, o acesso ao pequeno investidor é defendido por Edemir Pinto, mas a decisão ficará a cargo da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), que ainda precisa aprovar as operações com o Banco Central (BC).

Segundo ele, a CVM também estará atenta para fechar possíveis brechas que possam surgir, possibilitando a investidores burlar a cobrança de taxas, como o IOF. O presidente da NSE, Ravi Narain, disse que os Brics se traduzem melhor em índices do que em ações individuais.

Ele lembra que é difícil para um investidor indiano aplicar em mercados internacionais, mas que a aliança torna muito mais conveniente o acesso a índices estrangeiros, já que a operação pode ser feita em moeda local, com fuso horário local e com os agentes de liquidação com os quais o investidor já tem uma relação.