Título: Suspeito preso tem longo histórico, mas não como terrorista
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Fonte: O Estado de São Paulo, 14/10/2011, Internacional, p. A10

Seu apelido era "Scarface", lembrete de um brutal golpe de faca recebido num beco de Houston três décadas atrás que deixou sua bochecha esquerda marcada. Seus amigos e vizinhos no Texas disseram que ele sabia ser grosseiro, intimidador e costumava ficar fora de casa fumando e falando ao telefone num idioma que eles não compreendiam.

Manssor Arbabsiar, de 56 anos, o homem no centro de um suposto complô iraniano para assassinar o embaixador saudita em Washington, parece ser mais um oportunista trapalhão do que um terrorista calculista. No Texas, deixou um rastro de empreendimentos falidos e credores enfurecidos, além de uma ex-mulher que solicitou proteção judicial contra ele. Amigos e conhecidos disseram que ele vivia em estado perpétuo de desorganização.

"Nem mesmo os pés de meia que ele usava eram do mesmo par", disse Tom Hosseini, ex-colega de quarto e amigo de longa data. "Ele vivia perdendo o celular e as chaves. Nunca seria capaz de levar a cabo tal plano."

Em algum momento nos últimos dois anos, Arbabsiar, chamado de "Jack" pelos amigos, passou certo tempo no Irã. Investigadores dizem que ele teria estabelecido relações com a Brigada al-Quds. Mas Hosseini, que viu o amigo pela última vez há aproximadamente seis meses, disse que ele parecia estar só em busca de dinheiro.

A queixa federal contra Arbabsiar não especificou a quantia que ele deveria receber dos iranianos, acusados de pedir que ele oferecesse US$ 1,5 milhão a traficantes mexicanos pela execução. Amigos o descreveram como alguém sem interesse em religião e política, habituado a fumar maconha e consumir bebidas alcoólicas livremente.

Sam Ragsdale, dono de uma concessionária de veículos, tinha uma palavra para descrevê-lo: "Inútil". Arbabsiar tornou-se cidadão americano após casar-se pela primeira vez. O casal separou-se em 1987. Ele se casou novamente e tentou a sorte numa série de pequenos empreendimentos, vendendo de cavalos até sorvetes, passando por carros usados e sanduíches. Tudo parece ter dado errado e os registros federais e estaduais mostram um rastro de penhoras, processos relacionados a empresas falidas e credores.

Ele foi detido em 2001 e indiciado por roubo num caso relacionado à venda de uma loja. Dan Keetch, vendedor de carros, disse que Arbabsiar pareceu ter ficado muito triste com os ataques do 11 de Setembro. "Meu amigo, não sou assim. A maioria do meu povo não é assim", teria dito, segundo Keetch.