Título: Analistas reduzem projeções para PIB do 3º trimestre
Autor: Graner, Fabio
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/10/2011, Economia, p. B1

IBC-Br mais fraco do que o esperado em agosto leva especialistas a estimar crescimento perto de zero no período julho-setembro

A retração do IBC-Br de 0,53% em agosto, superior às expectativas do mercado, além de outros dados econômicos recentes, levará a MCM Consultores a reduzir a projeção para crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do terceiro trimestre para um número ligeiramente acima de zero. A estimativa anterior era de 0,8%.

"Com a desaceleração do nível de atividade, vamos revisar a previsão de crescimento do País em 2011 de 3,6% para uma marca pouco acima de 3%", disse o economista e sócio da consultoria, Antônio Madeira. De acordo com ele, o IBC-Br apresentou no trimestre de junho a agosto retração de 0,2% na comparação com o período março-maio.

Segundo Madeira, um resultado negativo não era registrado desde o primeiro trimestre de 2009, quando o índice apresentou queda substancial de 2,4% ante outubro a dezembro de 2008. Naqueles seis meses (de outubro de 2008 a março de 2009), o Brasil mergulhou em rápida recessão, motivada pela retração da economia mundial.

Segundo Madeira, a economia nacional está perdendo claramente velocidade, como mostraram alguns indicadores, como a retração de 0,2% da produção industrial em agosto ante julho e a baixa de 0,4% das vendas do varejo no mesmo período (que recuaram 2,3% quando é levado em consideração o conceito ampliado, que inclui automóveis e atividade da construção civil).

"Mas esse movimento de desaceleração do nível de atividade está relacionado com a política restritiva de crédito e de juros que o governo vem adotando desde o fim do ano passado, com aumento de compulsórios de depósitos de bancos, ações macroprudenciais e alta da taxa Selic de 1,25 ponto porcentual de janeiro a julho", afirmou.

"Esses fatos ocorrem agora por causa da conhecida defasagem da política monetária sobre a economia, que leva de 6 a 9 meses, como manifestou o próprio Banco Central", disse Madeira.

Segundo o economista, o BC deve dar continuidade ao corte de juros e reduzir a Selic em 0,50 ponto na reunião da próxima semana e na que se encerra no dia 30 de novembro, a última do ano. A taxa deve encerrar o ano em 11% e deve haver mais dois cortes também de 0,50 ponto porcentual nos encontros de 18 de janeiro e 7 de março de 2012.

Com esse movimento de redução dos juros para 10%, que ficarão estáveis até o fim do próximo ano, o economista avalia que a inflação não vai retrair com vigor, pois deve fechar fora da meta em 2011 e no próximo ano. Ele espera que o IPCA fique em 6,6% neste ano, superando o teto da meta de 6,5%, e caia um pouco, para 6,3% em 2012. Nesse cenário, o mundo vai crescer pouco no próximo ano, mas não deve mergulhar em recessão.

Limitador. Para Rafael Bacciotti, economista da Tendências Consultoria Integrada, o desempenho do IBC-Br em agosto acompanhou, em grande medida, o movimento da produção industrial, que recuou 0,2% na mesma comparação, e das vendas no varejo, que apresentaram queda de 0,4%.

"Apenas como exercício, mantendo-se o índice de setembro idêntico ao de agosto, o indicador apontaria uma queda de 0,2% do PIB do terceiro trimestre", afirmou. A projeção atual da Tendências está em 0,7%, mas "já se atribui um viés de baixa a essa estimativa".

Dessa forma, disse Bacciotti, os indicadores recentes vêm confirmando a expectativa de que o nível de atividade econômica se reduzirá no segundo semestre. "A velocidade desse processo, entretanto, pode ser limitada pelo fôlego do mercado de trabalho e pelo ímpeto de consumo."