Título: Economia recua mais que o previsto
Autor: Graner, Fabio
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/10/2011, Economia, p. B1

Índice do BC que funciona como prévia do PIB cai 0,53% em agosto e sinaliza que resultado do ano deve ficar abaixo do projetado

A economia brasileira recuou em agosto e pode estar desacelerando mais que o previsto. É isso que aponta o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), indicador que funciona como um termômetro mensal da economia.

O índice recuou 0,53% em agosto em relação a julho. Levando-se em conta também o resultado de junho e julho, a média acumulada nos três meses é negativa em 0,19%.

O resultado dá mais força para o cenário de desaquecimento da economia traçado pelo BC como justificativa para a redução da taxa básica de juros. No resultado acumulado em 12 meses, a economia está crescendo 4% - nível considerado pelo BC abaixo da capacidade de o País crescer sem pressionar a inflação.

Na visão do BC, seria necessário cuidar para que a economia não entrasse numa rota de estagnação, em um quadro de deterioração do ambiente externo.

Com os dados divulgados ontem pelo BC, boa parte dos analistas começou a refazer as projeções do Produto Interno Bruto (PIB) em 2011. Para o desempenho do terceiro trimestre, cujo resultado oficial o IBGE só divulgará em dezembro, a maior parte dos analistas trabalha com cenário de estabilidade ou queda no PIB. Mesmo assim, há grande dúvida sobre se o movimento de desaceleração será suficiente para derrubar a inflação.

Em entrevista ao serviço AE Broadcast ao Vivo, da Agência Estado, o economista-chefe do banco ABC Brasil, Luiz Otávio de Souza Leal, prevê um resultado próximo de zero para o PIB no terceiro trimestre e uma alta de 3,3% no ano. Mas não descarta a possibilidade de o indicador ficar mais próximo de 3%.

Quanto à desaceleração econômica e sua influência sobre a inflação, Souza Leal apontou que há muitas dúvidas se o setor industrial - que representa em torno de 30% do PIB - vai ser capaz de puxar rapidamente para baixo o setor de serviços, que responde por cerca de 60% do PIB.

"Não há dúvida se há desaceleração. A questão é: essa desaceleração é suficiente para trazer a inflação para a meta?"

Produção e consumo. O economista do BES Investimento Flavio Serrano considera que é um engano tratar como tendência de estagnação os resultados do IBC-Br. "Uma desaceleração no terceiro trimestre já estava contratada, não quer dizer que a economia viverá uma estagnação", disse Serrano, argumentando que a indústria tem tido um desempenho mais fraco, enquanto o consumo das famílias, mesmo com alguma acomodação, ainda segue forte.

O economista destaca que o mercado de trabalho não dá sinais de perda de dinamismo. "Ainda não estão equilibradas a oferta e a demanda, o que gera um risco de a inflação não cair tanto daqui para frente e se elevar mais rapidamente no segundo semestre de 2012, forçando nova alta dos juros." / COLABOROU NALU FERNANDES