Título: Taxa de investimento desacelera
Autor: Dantas, Fernando
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/09/2011, Economia, p. B1/10

Ritmo de crescimento caiu de 28,1% no primeiro trimestre para 5,9%, ainda assim com o resultado inflado por importação de máquinas

O crescimento do investimento no País, medido pela Formação Bruta de Capital Fixo, desacelerou para 5,9% no segundo trimestre de 2011, depois de chegar a 28,1% no mesmo período de 2010. Além de ficar muito abaixo da taxa registrada no segundo trimestre do ano passado, o desempenho foi basicamente impulsionado por importações de máquinas e equipamentos, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

"O investimento foi puxado para cima muito pela importação de máquinas e equipamentos. O crescimento (de 5,9%) foi bem acima tanto da produção nacional de máquinas e equipamentos quanto da construção civil, sendo que 100% da construção é considerado investimento", disse Rebeca Palis, gerente na Coordenação de Contas Nacionais do IBGE.

Preço. Na opinião do economista Márcio Fortes, professor de Relações Internacionais do Ibmec, a importação de máquinas e equipamentos não seria prejudicial à economia se não houvesse similares nacionais. "O problema é que a indústria encontra similares mais baratos lá fora e prefere comprar os importados, porque têm melhor preço do que os brasileiros", afirmou.

Ao longo dos anos, o setor vem perdendo participação para os produtos vindos de fora. A projeção da Associação da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq) é de que as importações subam 28% em 2011.

"O produto nacional está sendo substituído pelo importado. Hoje, a importação de máquinas representa 58% do consumo de máquinas no Brasil.

Historicamente, esse número era de 40%", diz o vice-presidente da entidade, José Velloso Dias. Ele afirma que a maior parte dos importados vem da China, embora, em valor, as exportações do país asiático para o Brasil percam para as dos EUA.

A variação do investimento foi a menor desde o quarto trimestre de 2009, quando atingiu 5,7%. Um dos motivos para a desaceleração dos investimentos seria o aumento da taxa básica de juros, a Selic. "Tivemos dois aumentos de juros nesse segundo trimestre, em abril e junho. O Copom (Comitê de Política Monetária) aumentou a Selic em 0,25 ponto porcentual duas vezes. Então temos taxa Selic mais alta do que a de 2010", lembrou Rebeca.

Apesar do cenário negativo, o vice-presidente da Abimaq disse que a queda na taxa de juros esta semana foi um alento. "Acreditamos que no próximo mês vai haver outra queda dos juros. As altas taxas vêm comprimindo nossa moeda", comentou sobre o câmbio valorizado, outro vilão da indústria nacional. Segundo o IBGE, a taxa de câmbio média no segundo trimestre de 2011 foi de R$ 1,60, enquanto a taxa no segundo trimestre do ano anterior foi de R$ 1,79.

Os produtos que mais contribuíram para o aumento das importações, além de máquinas e equipamentos, foram os da indústria automotiva, minerais não metálicos, produtos químicos e têxteis. "A economia continua aquecida, e boa parte dessa demanda é suprida por essas importações", ressaltou Fortes.

Tanto as exportações quanto as importações de bens e serviços apresentaram expansão no segundo trimestre ante o primeiro trimestre do ano, de 2,3% e 6,1%, respectivamente, após terem tido queda no trimestre anterior (-3,1% e -1,4%). Ante o mesmo trimestre de 2010, as exportações aumentaram 6,0% no segundo trimestre, enquanto as importações de bens e serviços subiram 14,6%.

Compras externas

REBECA PALIS GERENTE NA COORDENAÇÃO DE CONTAS NACIONAIS DO IBGE

"O investimento foi puxado para cima muito pela importação de máquinas e equipamentos."

JOSÉ VELLOSO DIAS VICE-PRESIDENTE DA ABIMAQ

"Hoje, a importação de máquinas representa 58% do consumo de máquinas no Brasil. Historicamente, esse número era de 40%."