Título: Estagnação da agropecuária pesa na desaceleração
Autor: Dantas, Fernando
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/09/2011, Economia, p. B1/10

Setor teve crescimento zero no trimestre, enfrentando o pior desempenho desde o quarto trimestre de 2009, segundo o IBGE

O produtor Nelson Schreiner, de 70 anos, não economizou adubo e tecnologia para formar quase mil hectares de milho na Estância São Carlos, em Itapeva, sudoeste paulista.

Com o frio intenso, a geada atingiu a plantação em pleno desenvolvimento. Para piorar, vieram as chuvas na hora da colheita e ele contabilizou uma quebra de 25% na produção. "Uma pena, pois o preço está muito bom", disse. Não foi só com o milho: o trigo, plantado no inverno, também foi afetado pelas geadas e ele estima perda de 20%.

Segundo o IBGE, o PIB da agropecuária ficou estagnado com crescimento zero no segundo trimestre deste ano contra igual trimestre em 2010. Foi o pior resultado desde o último trimestre de 2009.

Os produtores apontam as condições climáticas adversas como responsáveis pela desaceleração no desempenho da agropecuária no segundo trimestre deste ano. "Os preços agrícolas estão excelentes, com a soja batendo na casa de R$ 55 a saca e o milho a R$ 30, mas a produção não saiu como se esperava", diz o gerente geral da Cooperativa Agrícola de Capão Bonito (CACB), Luiz Carlos Mariotto. "O que faltou foi a ajuda de São Pedro". Nas principais regiões produtoras de São Paulo, Paraná e Mato Grosso, o milho safrinha foi afetado tanto pela estiagem logo após o plantio, como pelas baixas temperaturas e geadas na fase de desenvolvimento das lavouras.

As chuvas vieram na hora da colheita, afetando a qualidade do grão. De acordo com Mariotto, as perdas oscilaram entre 30% e 40%. Para o trigo, os efeitos foram ainda piores: além da quebra de até 50% na produção, a qualidade do grão foi afetada pelas chuvas.

Pecuária. O setor pecuário também sofreu perda de renda por falta de escala de produção, segundo o pecuarista José Fernandez Lopez Neto, de Itapeva. Apesar de os preços da carne bovina terem se mantido em patamares históricos elevados, a produção não vem crescendo na proporção do consumo. Muitos criadores saíram da atividade, diz ele.

O presidente da Câmara Setorial da Carne Bovina da Secretaria da Agricultura do Estado de São Paulo, Alfredo Ferreira Neves Filho, atribui parte do fraco desempenho da agricultura à queda de exportação da carne bovina, agravada pelo embargo da Rússia, em maio, mas cujos reflexos ainda estão sendo assimilados pelo setor. Ferreira Filho disse problemas internos - como a saúde das empresas frigoríficas, alto custo de produção e política tributária ineficiente - e externos, como embargos de países compradores e câmbio baixo, impedem o crescimento da atividade e inibem novos investimentos dos pecuaristas.

Ferreira Neves lembrou que no primeiro semestre as exportações da carne bovina brasileira caíram 16% em volume em relação ao mesmo período de 2010 só se mantendo positiva por causa do preço do produto brasileiro, que foi valorizado. COLABOROU CHICO SIQUEIRA / ARAÇATUBA

Expectativa frustrada

LUIZ CARLOS MARIOTTO GERENTE GERAL DA COOPERATIVA AGRÍCOLA DE CAPÃO BONITO (CACB)

"Os preços agrícolas estão excelentes, com a soja batendo na casa de R$ 55 a saca e o milho a R$ 30, mas a produção não saiu como se esperava."

"O que faltou foi a ajuda de São Pedro."