Título: Mantega acena com estímulo à economia
Autor: Dantas, Fernando
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/09/2011, Economia, p. B1/10

Ministro diz que governo pode adotar medidas fiscais e monetárias caso a crise se agrave e ameace o crescimento de 5% em 2012

BRASÍLIA

O governo poderá adotar medidas de estímulo fiscal no próximo ano se o cenário internacional piorar e afetar o desempenho da economia brasileira, admitiu ontem o ministro da Fazenda, Guido Mantega. "Espero não ter que usar nem as políticas monetárias, nem as políticas fiscais, mas se a economia não estiver tendo o desempenho esperado, poderemos usar, como já usamos no passado, de modo a alcançar a taxa de crescimento de 5% no próximo ano", disse.

O comentário de Mantega foi feito durante teleconferência com a imprensa estrangeira, poucas horas depois da divulgação dos dados sobre o desempenho da economia brasileira no segundo trimestre, que registrou uma desaceleração em relação aos três primeiros meses de 2011.

Para o ministro da Fazenda, a economia deve crescer no terceiro trimestre em ritmo próximo ao registrado no período de abril a junho, acelerando no final do ano. Segundo o ministro, o PIB brasileiro deve encerrar 2011 com uma taxa de expansão mais próxima de 4% do que os 4,5% que vinham sendo estimados.

Mergulho. Apesar de admitir o uso de medidas como a redução de impostos e o aumento dos gastos públicos, representantes do ministério ressaltaram, mais tarde, ao serem procurados pela reportagem para comentar as declarações do ministro, que as iniciativas só serão tomadas numa situação extrema, de forte recessão mundial, que force um "mergulho" da economia brasileira.

Somente nesse cenário o governo usaria a margem de R$ 25 bilhões das despesas com investimentos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) para cumprir a meta fiscal de 2012. "Esse é o espírito da política anticíclica", disse ao Estado uma fonte da Fazenda.

Dilma. A presidente Dilma Rousseff também prometeu enfrentar eventuais reflexos da crise das economias desenvolvidas com a mesma receita de 2008. "Nós enfrentaremos essa crise consumindo, investindo, ampliando e criando empresas, diminuindo impostos, plantando e colhendo os frutos do trabalho da agropecuária brasileira", afirmou a presidente, durante discurso para autoridades e agropecuaristas na abertura oficial da 34ª Expointer, em Esteio, na região metropolitana de Porto Alegre (RS).

Na avaliação da presidente, "os ventos" que chegam dos países desenvolvidos "não são muito bons". Ainda assim, Dilma reafirmou que o Brasil tem condições de enfrentar possíveis reflexos do cenário externo mais conturbado. Segundo a presidente, a "força" do Brasil está no mercado interno e na solidez de suas finanças.

Ciclo sustentado. Na avaliação do presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, os números do PIB no segundo trimestre de 2011 confirmam que "a economia brasileira se encontra em um ciclo sustentado de expansão".

Essa velocidade, segundo ele, está "em ritmo mais condizente com o equilíbrio interno e externo e consistente com o cenário de convergência da inflação para a meta em 2012".

Segundo o IBGE, o crescimento de 0,8% no segundo trimestre, na comparação com os primeiros três meses do ano, foi menor que a expansão revisada de 1,2% do primeiro trimestre de 2011 ante os últimos três meses de 2010.

Em nota à imprensa, Tombini observou que "a demanda doméstica continua sendo o grande suporte da economia". /ELDER OGLIARI, FERNANDO NAKAGAWA, ADRIANA FERNANDES, COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

Estratégia

GUIDO MANTEGA MINISTRO DA FAZENDA

"Espero não ter de usar nem as políticas monetárias, nem as políticas fiscais, mas se a economia não estiver tendo o desempenho esperado, poderemos usar, como já usamos no passado, de modo a alcançar a taxa de crescimento de 5% no próximo ano."