Título: Dilma conversa sobre Síria com presidente turco
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Fonte: O Estado de São Paulo, 08/10/2011, Internacional, p. A18

A presidente Dilma Rousseff e o chanceler brasileiro, Antonio Patriota, ouviram ontem queixas da Turquia sobre a intransigência do presidente da Síria, Bashar Assad, durante reunião em Ancara. As reclamações sobre as dificuldades de diálogo com Damasco foram feitas pelo presidente turco, Abdullah Gul, mas não mudaram a posição brasileira de não intervenção.

O encontro ocorreu no palácio presidencial de Çankaya, em Ancara, capital da Turquia. Gul contou a Dilma que pediu a Assad a liberalização do regime e a adoção de medidas "claras e rápidas" na Síria. "Assad não me ouviu", teria dito o presidente turco. Aos poucos, a Turquia endureceu sua relação com Damasco, um antigo aliado do país.

Até o momento, a reação do governo brasileiro é de "observação", de acordo com o assessor da Presidência, Marco Aurélio Garcia. Nesta semana, o Brasil se absteve na votação de uma resolução da ONU que condenava a violência na Síria. A justificativa brasileira é de que as mudanças têm de ser obtidas pacificamente para evitar uma nova intervenção militar, como a da Otan na Líbia.

Gul fez apenas um pronunciamento à imprensa - sem direito a perguntas - e não falou sobre o tema. Dilma também não quis falar com jornalistas brasileiros na Turquia. Em entrevista ao jornal Zaman, ela foi questionada sobre a relação do País com a Síria e sobre a posição brasileira quanto à primavera árabe.

A presidente lembrou que o Brasil é terra de muitos imigrantes árabes e afirmou que os brasileiros apoiam a busca pela liberdade. "Todas as nações devem procurar um legítimo caminho para ajudar essas sociedades que clamam por reformas", disse. "Reprovamos veementemente a repressão de civis e continuamos convencidos de que o uso da força, para a comunidade internacional, deve sempre ser o último recurso."

Garcia já havia afirmado, na quinta-feira, que as divergências entre Brasil e Turquia abalam a aliança entre os dois países. Segundo ele, a iniciativa turca de pressionar a Síria é "um jogo político próprio". Ontem, Dilma e Gul prometeram manter contato sobre o tema.

Erdogan. Além da reunião com Gul, Dilma deveria se encontrar hoje, em Istambul, com o primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdogan. O encontro, porém, foi antecipado para a noite de ontem e ocorreu em circunstância inusitada: no velório da mãe do premiê. Hoje, a presidente terá agenda privada em Istambul antes do retorno da delegação a Brasília. / COLABOROU JAMIL CHADE

-------------------------------------------------------------------------------- adicionada no sistema em: 08/10/2011 05:12