Título: EUA pedem renúncia imediata de Assad
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Fonte: O Estado de São Paulo, 08/10/2011, Internacional, p. A18

Em comunicado, Casa Branca condena violência contra opositores no país; Damasco veta entrada de missão da ONU liderada por brasileiro

A Casa Branca condenou ontem a violenta repressão a opositores na Síria e pediu a renúncia "imediata" do presidente sírio, Bashar Assad. Jay Carney, porta-voz do presidente americano, Barack Obama, afirmou que o regime está "levando o país para um caminho perigoso".

"Os EUA condenam veementemente a violência contra membros da oposição na Síria", disse Carney, em comunicado. A Casa Branca condenou também o assassinato do líder curdo Meshaal Tamo, de 53 anos, membro do Conselho Nacional Sírio, principal coalizão opositora. Ele foi assassinado ontem em sua casa, em Qamishli, no norte da Síria, após quatro homens mascarados terem invadido sua casa.

O comunicado da presidência dos EUA critica ainda a violência contra Riad Seif, dissidente e ex-preso político. Ele foi espancado ontem por agentes de segurança em plena luz do dia quando saía da mesquita Al-Hassan, na cidade de Midan, nos arredores de Damasco.

"Esses atos mostram, mais uma vez, que são vazias as promessas de diálogo e de reformas do regime de Assad", declara o comunicado da Casa Branca. De acordo com a ONU, cerca de 2,9 mil pessoas já morreram desde março, quando Assad começou a reprimir os protestos populares na Síria.

Missão da ONU. A Síria fechou as portas ontem para a comissão liderada pelo brasileiro Paulo Sérgio Pinheiro, incumbida de investigar a repressão contra civis. Damasco disse que a comissão independente da ONU apenas entrará no país depois que as próprias autoridades sírias concluírem suas investigações sobre os casos de abusos contra dissidentes.

Em Genebra, a ONU fez uma avaliação sobre a situação dos direitos humanos na Síria. Como o Estado antecipou, o Brasil adotou uma posição de "neutralidade". Brasília condena a repressão e pede que Assad aceite a comissão de Pinheiro, mas o País alerta que a queda de Assad, por si só, não é a solução para a crise.

De acordo com o vice-chanceler sírio, Faisal Mekdad, Damasco não pretende colaborar com a comissão. Segundo ele, para o governo de Assad, as manifestações populares não passam de ações de terroristas armados com a ajuda de países vizinhos.

Intervenção. "A ingerência externa é um crime", disse Mekdad. No entanto, como o prazo da comissão termina em seis semanas, a posição adotada por Damasco dificilmente permitirá que a viagem ocorra.

Segundo ONGs e alguns diplomatas europeus, a posição do Brasil é "ambígua". Apesar de condenar a violência, o governo brasileiro não pede a saída de Assad - ao contrário de EUA e Europa, que exigem a renúncia imediata do ditador da Síria. / COLABOROU JAMIL CHADE