Título: Dilma busca aliados na guerra cambial
Autor: Netto, Andrei
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/10/2011, Economia, p. B9

Governo deverá levar debate para a próxima reunião do G-20 em Cannes, na França; Dilma Rousseff quer apoio dos países emergentes

O governo brasileiro revelou ontem mais uma de suas prioridades na reunião de cúpula do G-20 em Cannes, na França, em novembro: a "guerra cambial" estará de novo no centro dos interesses.

A presidente Dilma Rousseff defendeu ontem, em Ancara, na Turquia, que países emergentes façam uma parceria para combater a "guerra cambial". As declarações se somam à luta pela regulação dos fluxos cambiais, defendida há três dias, em Bruxelas. A economia foi o tema do principal discurso da presidente realizado no Fórum Empresarial Brasil-Turquia, um evento com a participação de 1,2 mil empresários dos dois países.

Dilma afirmou que Brasil e Turquia são afetados pelas "políticas cambiais expansionistas" empreendidas pelos bancos centrais de países desenvolvidos. "Somos afetados pelas políticas de reação à crise dos países desenvolvidos, notadamente a expansão monetária praticada por alguns bancos centrais, o que leva a uma espécie de guerra cambial", disse a presidente. "Essas políticas monetárias expansionistas têm sido o remédio privilegiado que as economias mais desenvolvidas têm buscado nos últimos tempos e têm como efeito secundário a valorização artificial de nossas moedas."

A presidente sugeriu uma parceria com a Turquia e os países emergentes no G-20 para que o tema seja uma das prioridades dos debates - proposta repetida horas depois no encontro com o presidente turco, Abdullah Gül. "A Turquia e o Brasil podem contribuir no G-20 para o prosseguimento das reformas das instituições econômicas e financeiras internacionais, aumentando a participação dos nossos países em decisões que afetam diretamente os nossos povos", disse, sugerindo: "No G-20 de Cannes, Brasil e Turquia devem pressionar por resultados concretos".

A presidente voltou a analisar a crise na Europa, reafirmando que os países desenvolvidos ainda não encontraram o equilíbrio entre ajustes fiscais e estímulos à retomada do crescimento sustentável. "Nem tampouco definiram modelos de regulação capazes de resolver a pesada dívida soberana que pesa sobre seus próprios bancos", criticou. Para se proteger da crise, disse que a saída é apostar nos mercados domésticos, na expansão dos investimentos industriais e agrícolas, em infraestrutura e em políticas sociais.

Segundo Dilma, a crise global resultou na modificação dos fluxos comerciais, uma circunstância que, na sua opinião, deve levar países emergentes como Brasil e Turquia a aprofundarem suas trocas. "Do ponto de vista de nossos potenciais (o comércio bilateral) é insignificante, muito aquém do desejado", advertiu. Os dois países movimentaram no primeiro trimestre de 2011 US$ 1,5 bilhão, número igual ao ano de 2010 inteiro.