Título: Hamas liberta militar após 5 anos de cativeiro em pacto histórico com Israel
Autor: Simon, Roberto
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/10/2011, Internacional, p. A14

Sargento Gilad Shalit deixou a Faixa de Gaza e reencontrou a família, horas depois, em território israelense; acordo que prevê libertação de 1.027 presos palestinos foi celebrado com a mediação do Egito

FAIXA DE GAZA - Como resultado de um histórico acordo entre Israel e o grupo radical palestino Hamas - mediado pelo Egito -, o sargento Gilad Shalit deixou ontem, terça-feira 18, pela manhã a Faixa de Gaza sob a escolta de militantes mascarados. Era o fim de um cativeiro de cinco anos e do drama familiar que comoveu a sociedade israelense durante esse período.

Ministério de Defesa/APMilitar israelense reencontra pai após 5 anos em cativeiro

A transferência de Shalit para o Egito era o passo mais delicado do acordo, que envolvia ainda a libertação imediata de 477 palestinos que cumpriam pena em prisões israelenses - outros 550 serão postos em liberdade nos próximos dois meses. No fim do dia, Shalit já descansava na casa da família, no norte de Israel.

Ao mesmo tempo, multidões em Gaza e na Cisjordânia celebravam em grandes comícios a chegada dos presos.

"Senti muito a falta da minha família", disse com dificuldade Shalit, ao ser entrevistado ainda no Egito. "Espero que minha libertação ajude a promover a paz entre israelenses e palestinos."

"Quando vi meu filho, não consegui falar nada. Apenas o abracei", disse Noam, pai do militar. Segundo ele, Shalit tem problemas causados pela falta de luz e pelos ferimentos do dia em que foi capturado, em 2006, além de estar mais magro. "Mas ele está bem", afirmou.

Shalit foi capturado com 19 anos, em um ataque de três grupos palestinos a um posto de controle a menos de um quilômetro da Faixa de Gaza. Era mantido incomunicável sob a guarda das Brigadas Ezzedine al-Qassam, o braço armado do Hamas.

Ontem, o soldado foi levado primeiro a uma base no sul de Israel, onde passou por exames médicos e telefonou para a mãe. Depois, encontrou-se com a família e ouviu os discursos do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu e do ministro da Defesa Ehud Barak.

O acordo, fechado na semana passada, encontrou resistência no próprio gabinete de Netanyahu - três ministros da coalizão votaram contra ele - e entre parentes de vítimas de atentados. Ele se deu ainda no momento em que a Autoridade Palestina, (AP) controlada pela facção moderada e laica Fatah, busca na ONU o reconhecimento de seu Estado como membro pleno.

Na Cisjordânia, parentes dos que seriam soltos concentraram-se numa estação rodoviária. Mas os ex-presos foram diretamente levados para a Mukata, sede da AP. A multidão no lugar errado começou um tumulto, rapidamente debelado.

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