Título: Temos de achar novos meios de proteger a liberdade
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Fonte: O Estado de São Paulo, 18/10/2011, Nacional, p. A10

Novo presidente da SIP, que assume o cargo hoje, defende o uso de mídias sociais para enfrentar governos autoritários

Ao assumir hoje a presidência da Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), o americano Milton Coleman leva consigo a fama de realizador. Entre seus primeiros projetos, ele pretende "reunir o melhor time possível" e buscar "novas maneiras de divulgar nossas causas, novas ferramentas para estabelecer e proteger as liberdades".

O sr. já tem planos para seu ano como presidente da SIP?

Tenho sim, mas prefiro não falar deles antes de tomar posse. Assumo num momento desafiador. Em muitos lugares da América Latina estamos sendo desafiados por governos que querem reduzir os direitos da sociedade de se informar. Para continuar nossos esforços, pretendo reunir o time mais forte possível. Temos de ser capazes de projetar uma imagem apropriada, manter o apoio das pessoas ao que estamos fazendo. Temos de trabalhar num caminho para a estabilidade financeira e expandir nosso quadro de associados.

O enfrentamento com os governos autoritários deve continuar?

Não tenho como saber o que acontecerá amanhã, mas o que foi feito até agora está na direção certa. Acho que temos de achar novas maneiras de divulgar nossas causas, novas ferramentas para estabelecer e proteger as liberdades. Temos de operar mais com as mídias sociais. Achar meios para enfrentar os governos autoritários, que tentam esconder do povo o fato de que, sem imprensa livre, a democracia não pode existir.

Que impacto as novas mídias podem ter nessa luta?

As novas tecnologias têm oferecido às pessoas mais informação, mais oportunidades de saber e decidir. O exemplo mais recente foi a Primavera Árabe, no Oriente Médio. Ali, os esforços para impedir que o mundo visse o que ocorria foram anulados por gente que se valia das mídias sociais. Por outro lado, vimos que, no México, dois jornalistas de sites foram recentemente mortos.

Sendo americano, o sr. acha complicado assumir o comando de uma entidade predominantemente latino-americana?

Não, porque acredito que temos coisas em comum. A SIP sempre operou por igual no Norte e no Sul. Não se trata de impor o jornalismo americano à América Latina, cada um dos lados tem lições a dar e a aprender do outro. Uma diferença maior é que nos EUA a Primeira Emenda na Constituição dá garantias totais à liberdade de expressão. Na América Latina, há muitos países que só agora estão conseguindo chegar a essa conquista.

Na prática, como vai enfrentar o desafio político?

Temos de estabelecer aqueles direitos humanos como parte dos direitos civis. Depois de estabelecê-los, defendê-los. Lembro uma frase de Thomas Jefferson. Ele disse que, se tivesse de escolher entre um governo sem jornais ou jornais sem governo, ficava com a segunda escolha.

Como vai organizar o encontro da SIP em São Paulo?

Nunca estive em São Paulo. Aliás, nunca visitei o Brasil. Tenho planos de ir, talvez em dezembro, e aguardo com muito interesse essa tarefa, porque esse é um grande país. Não se esqueça, eu sou um afro-americano, e o Brasil tem a maior população de origem africana depois da Nigéria. E acho a imprensa no Brasil uma das melhores do mundo, e das mais corajosas.