Título: Família palestina aguarda liberdade de tio e sobrinho
Autor: Simon, Roberto
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/10/2011, Internacional, p. A11

Dos 477 palestinos que devem ser soltos hoje, Fouad Razm foi o que mais tempo passou na prisão

JERUSALÉM - Três sofás, mesa de centro e TV de plasma foram ontem para a entrada do sobrado da família Razm, no bairro de Ras al-Amud, Jerusalém Oriental. Hoje, os vizinhos estão convidados para festejar a libertação de Fouad Razm, que vivia na casa até 1981, quando foi preso por matar dois soldados israelenses. Fouad, porém, só estará presente nas dezenas de retratos que a família colocou para decorar a festa. Israel aceitou soltá-lo, desde que ele vá para a Faixa de Gaza.

Atef Safadi/EFEPalestinos se concentram ao lado do campo militar de Ofer para esperar liberação de presosACOMPANHE AO VIVO A COBERTURA COMPLETA

Entre os 477 palestinos que devem ser libertados hoje, ele é o que mais tempo passou na prisão. Aos 23 anos, quando militava no Fatah, planejou e executou os assassinatos dos dois militares. Foi condenado à prisão perpétua e, no centro de detenção de Nafha, migrou para o grupo fundamentalista Jihad Islâmica.

Hanidi tinha 6 anos quando o irmão foi preso. "Praticamente o conheci nas visitas à cadeia", disse ela, sentada na sala improvisada que montou para a festa de hoje. A última vez que viu Fouad foi no feriado do Ramadã, em agosto. "É triste que ele não voltará para casa. Mas pelo menos não estará mais na prisão."

Questionados sobre os crimes de Fouad, seus parentes silenciam. Apesar de a casa estar pronta para hoje, eles temem que um contratempo de última hora estrague a festa. Segundo a família, em 1985, quando Israel aceitou trocar mais de 1,1 mil presos por três soldados, Fouad tinha lugar marcado em um dos ônibus que levaria os militantes soltos. Na última hora, o governo israelense exigiu que ele não embarcasse. "Aguardaremos até o último minuto, mas acho que, desta vez, venceremos", disse Hanidi.

Fouad não é o único da família Razm entre os 477 palestinos a serem soltos hoje. Mohamed Ayman, seu sobrinho, foi condenado à prisão perpétua por envolvimento em um atentado contra um ônibus lotado, em 1996. Na ocasião, 26 pessoas morreram e 48 ficaram feridas.

Seus irmãos e pais vivem a cinco casas do sobrado de Fouad. Diferentemente do tio, ele não poderá retornar a nenhum território palestino - Cisjordânia, Gaza ou Jerusalém Oriental - e deverá partir para algum país islâmico que o aceite - provavelmente Turquia, Síria ou Catar. Ao todo, 40 dos 477 presos seguirão o mesmo caminho.

O grupo no qual Ayman militava não era a Jihad Islâmica de seu tio, mas o Hamas. "Nesta casa, somos todos Hamas até o fim", afirma Mahmoud, irmão do militante. Para ele, agora "não resta mais dúvida" de que só o grupo que governa Gaza é capaz de "fazer frente" a Israel.