Título: Vizinhos acusam tribos iraquianas de financiar grupo
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/10/2011, Internacional, p. A16

Prosperidade da região autônoma do Curdistão iraquiano - que abriga o polo petrolífero de Kirkuk - tornou-se uma das fontes de financiamento do PKK

BAGDÁ - Embora os curdos iraquianos sejam integrantes do governo nacional do Iraque e experimentem ampla autonomia na rica região norte do país, membros das tribos locais seguem dando apoio logístico e financeiro ao separatista Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK) - que atua na Turquia, Irã e Síria e foi fundado em 1978 para lutar pela independência da pátria curda.

Osman Orsal/ReutersSoldados carregam corpo de um dos militares mortos durante ataque do PKK

Segundo acusações dos países vizinhos, a prosperidade da região autônoma do Curdistão iraquiano - que abriga o polo petrolífero de Kirkuk - tornou-se uma das fontes de financiamento do PKK, considerado grupo terrorista pelo Departamento de Estado dos EUA e pela União Europeia. O governo da região semiautônoma do Curdistão iraquiano, oficialmente, qualificou o ataque do PKK de ontem como um "crime contra os interesses dos povos curdos".

O ministro de Relações Exteriores do Iraque, durante visita à Turquia na semana passada, afirmou que o Exército iraquiano poderia ajudar no combate aos militantes do PKK com base no país. O líder do Curdistão iraquiano, Massoud Barzani, pediu um cessar-fogo imediato ao PKK e reiterou que os problemas da população curda não serão resolvidos por meio da guerra.

Autonomia. Único grupo iraquiano que apoiou os EUA no início da invasão do Iraque, em 2003, os curdos se beneficiaram politicamente das divisões entre sunitas e xiitas. Originários de antigos povos não árabes que migraram para a região, eles têm hoje maioria muçulmana sunita - mas há grande parte da população curda que professa outras religiões. São responsáveis por sua própria segurança, infraestrutura. Com a estabilidade da região, reduziram-se os ataques separatistas em território iraquiano.

Por outro lado, a consolidação do autogoverno curdo no Iraque logo após a queda de Saddam Hussein mostrou a insuficiência das medidas políticas turcas para encerrar o conflito com os mais de 15 milhões de curdos que vivem na Turquia.

O PKK vem aumentando seus ataques contra as forças de segurança de Ancara após a vitória do primeiro-ministro Recep Tayyip Erdogan nas eleições de junho. Mais de cem pessoas foram mortas na onda de violência. O Partido da Paz e da Democracia (BDP), entretanto, conseguiu eleger a margem histórica de 35 deputados e decidiu, depois de quatro meses, tomar posse no Parlamento diante da perspectiva da criação de uma nova Constituição - que encerre as disputas históricas, a violência, e acabe com o caráter étnico turco da atual Carta Magna. Ontem, o BDP rapidamente condenou o ataque contra os militares turcos, afirmando que "a Turquia precisa de paz, não existe outra opção". / AP, NYT e MCT