Título: Rebeldes curdos matam 24 na Turquia, que reage com ataque a bases no Iraque
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Fonte: O Estado de São Paulo, 20/10/2011, Internacional, p. A16

Vingança. Governo de Ancara promete levar adiante 'operação perseguição' e TV informa que cerca de 600 soldados, apoiados por caças da Força Aérea turca, cruzaram a fronteira com o país vizinho e bombardearam esconderijos da guerrilha separatista PKK

Em resposta a ataques da guerrilha curda que mataram 24 soldados e policiais turcos ontem, a Turquia lançou a maior ofensiva militar em três anos contra bases de rebeldes no norte do Iraque. Pela manhã - em ações simultâneas do grupo separatista Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK) -, sete postos militares e policiais turcos nas cidades de Cukurka e Yuksekov foram alvos dos ataques, que deixaram ainda 18 feridos.

Pouco depois, o primeiro-ministro, Recep Tayyip Erdogan, anunciou em rede nacional a "operação perseguição", após reunião de emergência com seu gabinete. Erdogan disse que tropas turcas estavam à caça dos responsáveis pelos ataques, deixando claro que as Forças Armadas da Turquia atravessaram a fronteira com o Iraque, onde estão as bases da insurgência curda. "Operações de longo alcance estão ocorrendo na região, no âmbito do direito internacional", disse a jornalistas em Ancara. "Vamos combater o terrorismo de um lado e, de outro, destruir as bases manipuladas pelo terror."

Segundo noticiou a emissora NTV, cerca de 600 soldados turcos avançaram 4 quilômetros no interior do território iraquiano. A ofensiva concentrou-se no norte do país, onde estão as bases do PKK. O grupo lidera o movimento pela autonomia do sudeste da Turquia, predominantemente curdo. Caças turcos bombardearam áreas montanhosas da fronteira entre os dois países.

"Nunca nos curvaremos diante de nenhum ataque lançado de dentro ou de fora de nossas fronteiras", disse Erdogan, pedindo, em seguida, "cooperação ativa" da comunidade internacional na luta contra os rebeldes. Os EUA, a União Europeia e a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) divulgaram notas nas quais afirmam condenar os ataques dos rebeldes curdos e apoiar a ofensiva da Turquia, a maior desde 2008, quando enviou 10 mil soldados ao norte do Iraque.

Vingança. "Aqueles que nos fizeram sofrer essa dor irão sofrer com maior intensidade", reagiu o presidente turco, Abdullah Gul. "Eles verão que a vingança será imensa e muitas vezes mais forte (do que os ataques)."

As tensões na região vêm se intensificando. Na semana passada, a Turquia chegou a pedir ao governo do Iraque permissão para entrar em seu território e agir contra bases curdas no norte do país. O governo turco deixou claro que sua "paciência está acabando", referindo-se aos constantes ataques de rebeldes lançados de bases iraquianas.

Ataques do PKK mataram pelo menos 18 civis e dezenas de militares e policiais turcos desde julho. Anteontem, um ataque a bomba em Bitlis, no sudeste da Turquia, deixou cinco policiais e três civis mortos, entre eles uma menina de 4 anos.

"Os EUA condenam veementemente os ultrajantes ataques terroristas contra a Turquia, um de nossos mais próximos e fortes aliados", disse o presidente americano, Barack Obama. "Vamos manter a forte cooperação com o governo turco em seus esforços para derrotar a ameaça terrorista do PKK e para trazer paz, estabilidade e prosperidade para todas as pessoas no sudeste da Turquia."

Os EUA compartilham informações de segurança com a Turquia. Os dois aliados vêm negociando a possibilidade de manter em solo turco uma base de aviões não tripulados Predator, da Força Aérea americana, depois que as tropas dos EUA, que devem deixar definitivamente o Iraque em dezembro.

A Turquia detém a segunda maior força militar da Otan, depois dos EUA. O secretário-geral da organização, Anders Fogh Rasmussen, criticou ontem os atos violentos dos rebeldes curdos e declarou apoio à ofensiva turca no Iraque. "Em nome da Otan, condeno nos termos mais fortes possíveis os ataques recentes no sudeste da Turquia", disse Rasmussen.

O presidente do Curdistão iraquiano, região semiautônoma, Massoud Barzani, ex-guerrilheiro que lutou contra as forças do ex-ditador Saddam Hussein, qualificou os ataques dos rebeldes de "criminoso" e "contrário aos interesses do povo curdo". Os confrontos ocorrem num momento em que a Turquia discute a ampliação dos direitos dos curdos, que são 20% da população de 74 milhões. / AP, NYT e REUTERS