Título: Israel faz acordo com Hamas para reaver soldado
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Fonte: O Estado de São Paulo, 12/10/2011, internacional, p. A15

Capturado há cinco anos por militantes islâmicos, Gilad Shalit pode ser solto nos próximos dias no Egito, em troca de mil prisioneiros palestinos

O governo de Israel e o grupo radical islâmico Hamas chegaram ontem a um acordo sobre a libertação do soldado israelense Gilad Shalit, de 25 anos, capturado na fronteira com a Faixa de Gaza em junho de 2006. Em contrapartida, 1.027 prisioneiros palestinos, incluindo 315 sentenciados à prisão perpétua, devem ser soltos por Israel.

O líder do Hamas na Síria, Khaled Meshal, confirmou o acordo e informou que a troca de prisioneiros se dará dentro de uma semana. Pelo menos 450 dos presos libertados seriam escolhidos pelo Hamas. Marwan Barghuti, líder popular na Cisjordânia e Gaza, tido como eventual sucessor do presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, seria um deles. Autoridades israelenses teriam exigido, porém, que Barghuti, preso em 2002 e condenado pela morte de cinco israelenses, fosse proibido de voltar à Cisjordânia por temer que sua presença desestabilize a região governada por Abbas.

O chefe do Shin Bet, serviço de segurança interna de Israel, Yoram Cohen, confirmou a libertação de mais de 300 condenados à prisão perpétua por ataques terroristas contra Israel, mas negou que Barghuti e Ahmed Saadat, líder de uma facção envolvida na captura de Shalit, estejam entre eles. Segundo Cohen, 40 prisioneiros serão deportados.

"Nos próximos dias, vamos devolver Shalit à família e ao povo de Israel", afirmou o premiê Binyamin Netanyahu, ao anunciar o acordo. Segundo ele, as negociações com o Hamas tiveram início na quinta-feira e um acordo foi fechado ontem.

A uma rede de TV local, Netanyahu disse entender a dor das famílias israelenses que "perderam pessoas amadas para a violência palestina", mas disse que "esse foi o melhor acordo" que poderia alcançar diante da turbulência na região, referindo-se à primavera árabe e à incerteza sobre o futuro do vizinho Egito após a queda do ex-ditador Hosni Mubarak, ex-aliado.

"Gilad passou cinco anos no mais terrível dos cativeiros, sem que soubéssemos em que condições estava. Eu não sei se o futuro nos permitiria chegar a um acordo melhor, ou a qualquer acordo, mas é provável que essa janela de oportunidade atual finalmente se feche e, no fim, não teríamos libertado Gilad", disse Netanyahu.

O premiê convocou uma reunião de emergência na noite de ontem para aprovar o pacto. "Ao formar esse governo, assumi a tarefa de devolver Gilad vivo e bem", disse. Shalit e os presos seriam transferidos, inicialmente, para o Egito, que intermediou as negociações e onde seria feita a troca.

Uma delegação do Hamas, liderada por Mahmoud Zahar, do alto escalão do grupo, viajou para o Cairo na segunda-feira para acertar os termos do acordo.

Com a troca, o Hamas tenta retomar a liderança que vem perdendo desde que o bloqueio de Israel isolou o grupo na Faixa de Gaza, em 2007, e recolocar-se como representante de todos os palestinos, depois que a popularidade de Abbas cresceu após o pedido de reconhecimento do Estado palestino na ONU, feito em setembro.

Já Netanyahu tem enfrentado duras críticas por causa da estagnação do processo de paz com os palestinos e uma onda de protestos contra o aumento do custo de vida no país. Resgatar Shalit o transformaria em herói.

Comoção. Gilad Shalit foi capturado em 25 de junho de 2006 por militantes do Hamas e de dois grupos aliados que atravessaram da Faixa de Gaza para Israel por meio de um túnel. Uma carta escrita à mão, um áudio curto e um vídeo do jovem foram enviados à família pouco após a captura. Desde então, pouco se sabe sobre ele.

Desde a divulgação do acordo, dezenas de israelenses visitaram a tenda montada pelo pai do jovem, Noam, diante da residência oficial de Netanyahu. A pequena barraca é decorada com fotos de Shalit e um painel que ontem exibia o número 1.935 - número de dias da duração do cativeiro de Shalit. / AP e NYT