Título: Comércio varejista já vem reagindo à inflação
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/10/2011, Economia, p. B2

A inflação já começa a prejudicar o comércio varejista, que registrou queda de 0,4% das vendas em agosto, em relação a julho, embora com aumento de 0,3% da receita nominal. Trata-se da segunda queda mensal do volume de vendas no ano. Mas não se pode falar de desaceleração, porque a receita das vendas cresceu 12,3% em relação ao mesmo mês do ano anterior e, de janeiro a agosto, o crescimento em volume foi de 7,2%, o que permitirá um desempenho favorável do comércio no balanço do ano.

Apenas dois dos setores analisados apresentaram variações positivas no volume de vendas: informática e comunicação, com crescimento de 7,3%; e livros, jornais e papelaria, com 1,6%. São setores cujo crescimento indica que o público está ainda pronto a ampliar compras que o satisfazem, sem ter de sacrificar aquelas que aumentam o bem-estar. No primeiro caso, o público se beneficia ainda de uma taxa cambial favorável, pois trata-se de bens com conteúdo importado importante.

A queda de 0,1% do volume das vendas de produtos alimentícios, com peso de 28,6% no resultado do comércio, é tipicamente uma reação ao aumento dos preços, pois se verifica que a receita desse setor cresceu 1,4%. As donas de casa são mais sensíveis do que os homens diante de uma elevação de preços e costumam reduzir provisoriamente suas compras quando os preços sobem demais. É possível também que, depois dos gastos nas férias, se busque um reequilíbrio do orçamento familiar.

O comércio varejista ampliado, que inclui as compras de veículos e material de construção, apresentou forte recuo: de 4,6% nos veículos e de 2% no material de construção, em razão da redução das facilidades de crédito e da necessidade de recuperar os gastos com as férias.

Parece-nos útil fazer alguma prospecção das vendas futuras do comércio. O balanço dos acordos sindicais alcançados até agosto mostra que os reajustes de salários nem sempre acompanharam a inflação, que os sindicatos não haviam estimado tão acelerada. A situação no quarto trimestre será totalmente diferente: neste período de dissídios de grandes categorias, não se alimentam mais ilusões sobre o controle da inflação. Os sindicatos lutarão por reajustes acima da inflação prevista.

Já a Pesquisa Mensal de Emprego e Salário do mês de agosto nos informa que a folha de pagamento real cresceu 3,3%, o que leva a crer que o poder aquisitivo em setembro melhorou e que, no final do ano, as compras de Natal serão muito fartas.