Título: Chineses pedem flexibilização da regra
Autor: Silva, Cleide
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/10/2011, Economia, p. B3

Três montadoras de caminhões querem evitar alta do IPI sobre importados e admitem antecipar a construção das fábricas no Brasil

Montadoras chinesas podem antecipar a construção de fábricas no Brasil para escapar da alta do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) em 30 pontos porcentuais, mas esperam que o governo flexibilize a regra de conteúdo local, fixada inicialmente em 65%. Ontem, três fabricantes de caminhões da China, a Foton, a Sinotruk e a Shacman confirmaram projetos para os próximos quatro anos.

Na segunda-feira, a americana Paccar/DAF também anunciou instalação de fábrica no Paraná para 2015, um investimento de US$ 200 milhões. Já entre as fábricas chinesas, só a Foton divulgou aporte de US$ 500 milhões. As outras duas preferem aguardar o posicionamento do governo federal para divulgar valores.

Caminhões da Foton estão à mostra na Fenatran, o salão internacional de veículos pesados que ocorre até sexta-feira no Anhembi. Modelos com capacidade entre 3,5 e 12 toneladas de carga estão sendo importados pelo ex-ministro e ex-presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), o economista Luiz Carlos Mendonça de Barros.

Ele não será sócio na fábrica, mas vai responder pela distribuição e importação de outros veículos que não forem produzidos localmente. ¿Estamos ajudando a Foton a escolher o local da fábrica¿, disse Mendonça de Barros. Estão na disputa Goiás, São Paulo e Pernambuco.

¿O projeto da fábrica foi antecipado de 2016 para 2015, mas pode também ser antes ou depois disso¿, informou Mendonça de Barros. Ele acredita que o governo vai criar uma ¿divisão de acesso¿ para as empresas com planos de construir fábricas com escalonamento de prazos mais flexível para o índice de nacionalização. Se isso não ocorrer, o grupo avalia alternativa que pode ser uma linha de montagem de CKD (conjuntos desmontados) no México, de onde os caminhões viriam para o País.

A Fóton Aumark do Brasil pretende comercializar 2 mil caminhões em 2012 e ter 15% do mercado de veículos leves em 2015. Os produtos chegarão em média 25% mais caros que o inicialmente previsto por causa do repasse da alta do IPI. Para o economista, a medida foi adotada pelo governo para ¿permitir às montadoras brasileiras bancar os aumentos salariais para os metalúrgicos nos próximos dois anos¿.

Terreno

A Sinotruk, representada pelo grupo Elecsonic, de Curitiba (PR), já tem área na capital paranaense onde pretende construir suas instalações.O investimento, em valor ainda não revelado, terá participação minoritária da companhia chinesa. O grupo importa caminhões pesados desde 2009 e vendeu 900 unidades até agora. Para 2012, a previsão é de 2,2 mil unidades.

Segundo Joel Anderson, diretor geral da Sinotruk Brasil, a montadora contemplava uma fábrica até 2015, mas estuda antecipa-la para o próximo ano inicialmente com montagem de CKDs. No início de novembro, os dirigentes têm encontro com representantes do governo para apresentar o projeto e pedir prazo mais longo para nacionalização de peças dos caminhões. ¿O tamanho do projeto e o investimento vão depender das respostas do governo brasileiro¿, disse.

Posição semelhante tem o grupo Metro-Shacman, que inicia a importação dos caminhões pesados da marca Shacman com projeção de vendas de 100 unidades ao mês. A ideia era construir fábrica local no terceiro ano de atuação no País, mas o prazo pode ser antecipado, informou Rodrigo Teixeira, diretor executivo do grupo brasileiro que atua no ramo da construção civil.

¿O que pode acelerar nosso plano é o depoimento da presidente Dilma Rousseff, de que empresas que apresentarem projetos podem ter o benefício de aplicação menor do IPI, ou aplicação gradativa do índice de 65% de peças locais ou tratamento isonômico¿, afirmou João Miguel Capussi, diretor comercial da Metro-Shacman. A fábrica terá capital nacional majoritário. O grupo negocia o local para a construção com vários Estados.

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