Título: Orlando liberou material esportivo para João Dias
Autor: Colon, Leandro
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/10/2011, Nacional, p. A8

Dois ofícios assinados pelo ex-ministro, em 2006, beneficiaram a entidade mantida pelo PM e delator do esquema de desvios de verbas

Agora ex-ministro, Orlando Silva enviou pessoalmente e assinou de próprio punho no fim de 2006 dois ofícios endereçados diretamente ao policial militar João Dias Ferreira, delator de esquema de corrupção no Ministério do Esporte. Ao assinar o documento, obtido pelo Estado, Orlando Silva liberou material esportivo para a ONG do policial que até então tocava o programa SegundoTempo no Distrito Federal. "É com grande satisfação que autorizo o encaminhamento à Vossa Senhoria de materiais esportivos confeccionados em penitenciárias brasileiras e em comunidades reconhecidamente carentes", disse Orlando no ofício 3099 de 30 de outubro de 2006. Hoje, ele classifica João Dias de "bandido", "farsante" e "criminoso". O assunto da carta é "liberação de material esportivo". Naquele dia, foram liberados 5 mil calções,5milcamisetas,5milbonés, centenas de bolas e redes para a ONG de quem hoje acusa Orlando Silva de participar de um esquema de desvios de recursos no Esporte. Nodia13dedezembrodomesmo ano, um outro ofício, de número3373/ 2006, também assinado por Orlando, reitera o anterior e acrescenta a liberação de mais 100 camisetas para o programa Segundo Tempo. Os dois ofícios mencionam o nome de João Dias e a Associação João Dias de Kung Fu-Desporto e Fitness, com sede no Distrito Federal. O ministro e sua equipe no ministério acusam Dias de fraudar a execução e a prestação de contas do projeto. Na época dos ofícios, o policial militar tinha contrato para aplicar o Segundo Tempo no Distrito Federal. O convênio mencionado nos documentos recebeu o montante de R$ 922 mil. Dias tem dito que, naquele ano de 2006, o dinheiro do seu convênio também foi parar no pagamento de despesas da campanha eleitoral do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que concorria a reeleição. O Ministério do Esporte diz que o PM desviou pelo menos R$ 3 milhões dos cofres do governo por meio de dois convênios entre 2005 e 2007. Dias nega as acusações e alega que sofre retaliação do ministério porque não quis pagar uma suposta propina de 20% que o PC do B, partido que comanda a pasta desde 2003, cobraria entre os participantes do programa Segundo Tempo. Encontro. Em sua defesa, Orlando alegou que só encontrou Dias uma vez, ainda na gestão anterior a sua, quando o ministro era Agnelo Queiroz, hoje governador do Distrito Federal que trocou o PC do B pelo PT. Já o policial militar tem declarado que teve uma reunião informal com o comunista em março de 2008 para discutir a cobrança que o ministério fazia contra ele. Segundo Dias, Orlando teria proposto a ele um acordo para que o esquema de corrupção não fosse denunciado. O delator ainda afirma que soube de uma entrega de dinheiro do esquema para Orlando na garagem do próprio ministério. O seu funcionário Célio Soares Pereira teria dado a ele uma caixa cheia de notas de R$ 100. O ex-ministro nega a acusação. Dias foi preso no ano passado na Operação Shaolin, que investigou seus dois convênios coma pasta. O Estado procurou a assessoria do Ministério do Esporte e pediu uma explicação sobre os motivos desses ofícios, mas não houve retorno até o fechamento desta reportagem.

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