Título: Mulheres queimam roupas por fim de ditadura no Iêmen
Autor: Chacra, Gustavo
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/10/2011, Internacional, p. A17

Grupo pede saída de Saleh, que ignora resolução da ONU e apelos para deixar posto ocupado há 30 anos NOVA YORK - Centenas de mulheres no Iêmen queimaram suas roupas e véus islâmicos em um protesto simbólico contra a repressão do regime aos opositores. O presidente Abdullah Saleh ignora resolução do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) e apelos internacionais para deixar o poder.

Louafi Larbi/ReutersProtestos ocorreu em Sanaa, capital do Iêmen, o país mais pobre do Oriente MédioVeja também: Infográfico: A revolta que abalou o Oriente Médio

O ato ocorreu após uma noite de violência em que ao menos 25 pessoas foram mortas em confrontos entre forças do governo e milícias tribais da oposição, lideradas pelo clã Ahmar. No sul do país, separatistas intensificaram seus esforços para conquistar a independência do norte, onde está a capital, Sanaa, e devem abrir uma nova frente de combate.

"É um apelo das mulheres livres do Iêmen. Estamos aqui queimando nossas roupas diante do mundo para que todos possam testemunhar os massacres realizados pelo tirano Saleh", lia-se no comunicado das mulheres distribuído nas ruas de Sanaa.

Incendiar as roupas é uma tradição das tribos do Iêmen para alertar os líderes sobre alguma situação perigosa que estejam enfrentando. A ação não tem ligação com os direitos das mulheres de se cobrirem ou não. As iemenitas costumam usar roupas pretas que deixam apenas os olhos à mostra.

Algumas jovens, especialmente em Sanaa, chegam a usar jeans, camiseta e hijab, mas estão em minoria. A maioria dos homens também veste roupas típicas de sua tribo e costuma levar um facão na cintura.

Assim como em algumas outras nações árabes, as mulheres estão na vanguarda dos protestos no Iêmen. Este mês, a ativista iemenita Tawakkul Karman recebeu o Prêmio Nobel da Paz por sua luta contra o regime de Saleh. Outras, defensoras do regime, reuniram-se diante de um prédio da ONU.

Depois de passar meses na Arábia Saudita tratando ferimentos, o líder do Iêmen retornou a Sanaa em setembro. Apesar de afirmar que aceitaria deixar o poder, Saleh rejeita liderar uma transição e ceder seus poderes para os opositores. No poder há cerca de três décadas, Saleh já enfrentava problemas mesmo antes do início da primavera árabe, entre eles o conflito contra rebeldes houthis no ano passado.

Segundo avaliação da consultoria de risco político Stratfor, distribuída a investidores nos Estados Unidos, "o Iêmen permanecerá em uma crise política até o fim do ano enquanto Saleh e seu clã continuam seus esforços para retomar o controle de Sanaa. Batalhas nas ruas da capital e seus arredores entre forças pró e antirregime devem seguir. O líder iemenita mantém um poderio maior, mas sem a capacidade de acabar com a oposição".