Título: Escola antecipa Enem e 639 provas são anuladas; PF investiga suborno
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Fonte: O Estado de São Paulo, 27/10/2011, Vida, p. A20

Educação. Suspeita é de que Colégio Christus, de Fortaleza, teve acesso há um ano a conteúdo de pré-teste, realizado pelo MEC para avaliar grau de dificuldade das questões que caem na prova; para ministro Fernando Haddad, "situação está administrável"

Um simulado realizado no Colégio Christus, de Fortaleza, dez dias antes da aplicação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), apresentou nove questões idênticas à prova aplicada no fim de semana passado em todo o País. A informação foi antecipada pelo portal estadão.com.br. O Ministério da Educação (MEC) não crê em vazamento da prova após a impressão e suspeita que a escola tenha tido acesso a questões do pré-teste realizado em 2010. Os 639 alunos do colégio terão de refazer o exame.

O MEC acionou a Polícia Federal para investigar o caso. As nove questões estavam em pré-teste realizado em outubro do ano passado em cinco Estados, entre eles o Ceará. Uma das linhas de investigação da PF é de que um funcionário do Colégio Christus tenha subornado um fiscal que aplicou questões do pré-teste na escola e copiado o caderno.

A aplicação das questões ficou sob responsabilidade do consórcio formado pela Fundação Cesgranrio e FUB/Centro de Seleção e de Promoção de Eventos (Cespe). No pré-teste foram distribuídos 16 cadernos de questões contendo 24 itens cada. Após a aplicação, os cadernos foram recolhidos, levados para Brasília, tabulados e incinerados.

O simulado realizado dez dias antes do Enem no colégio com as questões idênticas ao Enem é exatamente igual à prova de pré-testes - por isso, sequer tem logotipo do Christus. O MEC afirma não ter registrado sumiço do caderno. Em pré-testes realizados em anos anteriores, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep) já chegou a cancelar questões do pré-teste por sumiço do caderno.

Todas as questões do Enem são testadas previamente em um grupo reduzido de estudantes, para determinar o grau de dificuldade. O exame é corrigido pela Teoria de Resposta ao Item (TRI), conjunto de modelos matemáticos que permite que estudantes com o mesmo número absoluto de acertos possam ter notas finais diferentes - a dificuldade desses itens são decisivas para a nota. Além disso, as questões pré-testes possibilitam que o exame possa ter uma comparação entre um ano e outro.

Facebook. O caso veio à tona depois que fotos do caderno de questões do simulado foram publicadas em um perfil no Facebook, na noite de terça-feira. Uma estudante de Fortaleza, que tem uma prima que estuda no Christus, já havia comentado nas redes sociais sobre a coincidência de questões na noite de sábado, primeiro dia de exame.

De acordo com o colégio, o simulado ocorreu dez dias antes do Enem. A escola publicou uma nota de esclarecimentos em seu sit. O texto afirma que, "como há o pré-teste de questões utilizadas no Enem, existe a possibilidade de que essas questões caiam no domínio público antes da realização oficial do exame, as quais eventualmente podem compor o banco de dados de professores e de outros profissionais da área de educação".

O Ministério Público Federal no Ceará vai recomendar que o Enem 2011 seja anulado em todo o País. O procurador da República Oscar Costa Filho soube do episódio por alunos que o procuraram. "É necessário que se imponha, de uma vez, a constitucionalidade no Enem, o que significa o direito de candidatos que se sentirem prejudicados recorrer", disse. Ele acha injusto que só os estudantes do Christus tenham de refazer a prova, porque eles podem ter passado as questões para outras escolas.

Os 639 alunos do Christus farão o novo exame nos dias 28 e 29 de novembro, quando a prova também será aplicada a presidiários de todo o País. "A situação está administrável", disse o ministro Fernando Haddad à noite, ao sair do MEC. Ele entrou no carro e foi embora sem responder se considerava o exame deste ano um sucesso, apesar do episódio de Fortaleza. / CEDÊ SILVA, CARLOS LORDELO, PAULO SALDAÑA, CARMEN POMPEU, MARIANA MANDELLI, RAFAEL MORAES MOURA