Título: Tratamento de Lula vai até fevereiro
Autor: Uribe, Guatavo
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/11/2011, Nacional, p. A12

-presidente abre série de sessões de quimioterapia; segundo médicos, tumor tem agressividade média e chances de cura são altas

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva passou ontem pela primeira sessão de quimioterapia para combater o câncer na laringe diagnosticado no sábado passado. Segundo a equipe médica do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, o resultado da biópsia indica que o tumor é localizado, pertence ao tipo mais comum e pode ser considerado como de agressividade média, com grandes chances de cura.

Os médicos reconheceram que o tratamento indicado para o caso, que inclui quimioterapia e radioterapia, apresenta risco de deixar sequelas na voz do ex-presidente. O oncologista Paulo Hoff, um dos membros da equipe, ressaltou, contudo, que esse risco em relação à voz é mínimo, uma vez que o tumor não comprometeu as cordas vocais.

"O tratamento com quimioterapia e radioterapia pode deixar uma pequena alteração na voz, mas, dando tudo certo, seria uma alteração mínima e não haveria nenhum impacto nas atividades normais de nosso paciente", afirmou.

Apesar disso, segundo os médicos, não há restrição para que Lula continue falando normalmente durante o tratamento. Para evitar riscos maiores, ele será acompanhado por uma equipe de fonoaudiólogos.

Alimentação. Paulo Hoff disse ao Estado que o ex-presidente também será assistido por uma nutricionista. É que, embora não haja restrições alimentares, o tratamento poderá causar enjoos e problemas gástricos.

Segundo os médicos, o ex-presidente passaria a noite no Sírio-Libanês e deveria sair hoje pela manhã. Entre 10 e 12 de janeiro, ele deve começar as sessões de radioterapia, previstas para sete semanas. De acordo com a equipe médica, o tratamento de quimioterapia e radioterapia deverá terminar em fevereiro.

O ex-presidente será submetido a três sessões de quimioterapia - cada uma com cinco dias de infusão de medicamentos e um ciclo de 21 dias. Ontem foi colocado um cateter dentro do ombro direito do ex-presidente. Cada vez que passar pela quimioterapia, uma bolsa, chamada de "bomba de infusão" será acoplada ao cateter por cinco dias, para administração dos medicamentos.

Os médicos ressaltaram que apenas em 40 dias será possível saber se o tratamento ministrado é o mais adequado para o caso de Lula. A avaliação inicial, porém, é que os atuais procedimentos são os mais indicados. O cirurgião Luiz Paulo Kowalski destacou que foi escolhida a quimioterapia e a radioterapia, pois hoje é comprovado que elas apresentam o mesmo potencial de cura que a cirurgia. Com esses procedimentos, o cabelo do ex-presidente deve cair.

Eleições 2012. A equipe médica do Sírio-Libanês garantiu que ainda é cedo para qualquer prognóstico a respeito da eventual participação de Lula na campanha municipal de 2012. "O que vai acontecer no ano que vem ainda não se sabe", afirmou Paulo Hoff.

Por recomendação dos médicos, a agenda de viagens de Lula foi cancelada para que fique perto da equipe médica. Isso significa que ele deverá permanecer em São Paulo durante o período do tratamento.

O cardiologista Roberto Kalil Filho relatou que o ex-presidente chegou pela manhã ao hospital "tranquilo" e "de excelente humor". Ele estava acompanhado da mulher, Marisa Letícia, e de Paulo Okamoto, diretor do Instituto Lula. O ex-presidente foi fotografado sorrindo ao lado da equipe de médicos.

Solidariedade. A assessoria de Lula informou que desde sábado, quando foi diagnosticada a doença, ele recebeu ligações de amigos e autoridades, dentre elas os presidentes da Venezuela, Hugo Chávez, de Cuba, Raul Castro, e da Argentina, Cristina Kirchner.

O Instituto Cidadania, ONG que Lula voltou a comandar depois de deixar a Presidência da República, criou no domingo um endereço de e-mail (saudelula@icidadania.org) para receber mensagens de solidariedade. De acordo com a assessoria do instituto, até o fim da tarde de ontem, cerca de 1,2 mil mensagens ao ex-presidente já haviam sido enviadas. / COLABOROU FERNANDO GALLO