Título: A queda da produção na indústria e a importação
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/11/2011, Economia, p. B2

A queda da atividade industrial de setembro, de 2% em relação a agosto, foi maior do que se previa.

Na verdade, a produção ficou 1,6% abaixo do mesmo mês de 2010 - e a queda foi generalizada. Com exceção dos bens intermediários, todas as categorias de uso tiveram resultados negativos. Em 14 dos 27 ramos e em 43 dos 76 subsetores, a produção caiu em 53% dos 755 itens analisados. Dificilmente se encontra nas pesquisas do IBGE um quadro tão negro.

Como explicar o que parece refletir uma perspectiva altamente negativa para a demanda nas festas natalinas? Há tempos vimos sinalizando essa tendência das empresas industriais brasileiras que se curvaram facilmente diante do processo de importação porque isso permite que elas reduzam seus estoques, cuja manutenção tem custo elevado num quadro de taxa de juros alta e de carga tributária excessiva.

Num país como o nosso, prefere-se transferir parte dessa carga para quem exporta para o Brasil. A ligeira melhora da taxa cambial, que favoreceria a exportação, não teve a continuidade esperada, enquanto a crise na União Europeia frustrava a esperança de um pequeno progresso nas vendas para o exterior.

Malgrado uma elevação do custo dos produtos importados, não se renunciou a aumentar as importações, que nos três últimos meses se aproximaram de uma média de US$ 1 bilhão por dia útil.

A produção de bens de capital, que grosso modo permite avaliar o grau de confiança das empresas industriais, apresentou em setembro um recuo de 5,5%, o mais forte desde fevereiro de 2009. Essa redução atingiu, em particular, os equipamentos de transporte e as máquinas para fins industriais, o que reflete bem a falta de confiança da indústria numa possível retomada da atividade.

O recuo da produção de veículos, de 11%, puxou incontestavelmente o do conjunto da indústria. A existência de estoques superiores ao normal levou as montadoras a reduzir a atividade.

O setor de mineração recebeu o impacto da queda da demanda internacional, acompanhado de uma modificação na fixação dos preços do minério de ferro.

Entre as atividades em que houve aumento da produção, registram-se a da indústria alimentícia (3,3%), que não depende tanto da importação; a dos produtos químicos (4,2%); e a dos equipamentos de informática (9,6%).

Em outubro, porém, houve uma forte redução dos estoques, que deve levar a indústria a se preparar, com atraso, para a demanda das festas do fim do ano.