Título: O spread elevado favorece os bancos e o governo
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/11/2011, Economia, p. B2

O Banco Central (BC) acaba de publicar o Relatório de Economia Bancária e Crédito relativo a 2010.

Um dos capítulos que mais se destacam é sobre a evolução do spread das instituições financeiras - parte importante da formação da taxa de juros e que se apresenta como a diferença entre as taxas de captação e de aplicação dos recursos bancários.

Dos 39,98 pontos porcentuais (p.p.) de 2008, ele foi-se reduzindo regularmente até 27,87 p.p., em 2010. Trata-se de um spread médio, calculado para o conjunto das instituições financeiras, e não pode ser comparado com os dados mais recentes, divulgados pelo BC, relativos ao crédito livre, em que o spread teve alta e em agosto deste ano era de 27,8 p.p.

A decomposição do spread permite avaliar como o sistema bancário evoluiu nos últimos anos. As provisões para a inadimplência têm, depois da margem líquida dos bancos, o maior peso na composição do spread: de 2004 a 2010, esse peso variou de um máximo de 30,50% (em 2009) ao mínimo de 24,29% (em 2004). Ora, o risco de inadimplência se reduziu nos últimos anos, o que leva a pensar que os bancos têm usado um argumento falso para elevar o spread. O compulsório, mais os subsídios cruzados e o Fundo Garantidor de Créditos tiveram uma nítida tendência de baixa: respondiam por 9,40% da formação do spread, em 2004, mas por apenas 4,08%, em 2010. Os custos administrativos passaram também por forte redução: 20,42%, em 2004, e 12,56%, no ano passado. Isso revela o grau de informatização das operações bancárias, que foi acompanhada por uma diminuição da mão de obra empregada.

A margem bruta dos bancos, que em 2008 chegou a 57,9% na formação do spread, era ainda de 54,52% em 2010. Os impostos diretos também aumentaram de 15,65%, em 2004, para 21,89%, em 2010. Deduzida essa carga tributária, verifica-se que a margem líquida dos bancos atingiu seu ponto alto em 2008, com participação de 34,80% na formação do spread, mas ficou ainda em 32,73% em 2010.

Uma conclusão parece se impor: o crescimento do crédito favoreceu tanto a rentabilidade das instituições financeiras quanto as receitas do governo. É uma constatação que nos parece importante para orientar uma política de redução do custo do dinheiro. Caberia aos bancos reduzir suas margens de lucros e ao governo, reduzir sua carga tributária, para que as empresas brasileiras tenham taxas de juros no nível das de suas competidoras estrangeiras.