Título: Um minigolpe de Estado que não deu certo
Autor: Netto, Andrei
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/11/2011, Economia, p. B3

Apenas um acordo entre oposição e governo pode manter Papandreou no poder, mas essa possibilidade está distante

Um país falido financeiramente e agora sem saber quem o governa. Essa é a Grécia, que hoje vai tentar decifrar quem está no poder. O governo do primeiro-ministro socialista, George Papandreou, passará por seu teste mais arriscado e terá de sobreviver a um voto de confiança hoje no Parlamento para não ser obrigado a convocar eleições antecipadas. Mas, em Atenas, a sensação é de que já não há governo e quem controla o país é mesmo Bruxelas, Berlim e Paris.

Em uma cena que apenas contribuiu para a tensão no país, o partido de oposição liderado por Antonis Samaris, deixou o Parlamento ontem. "Papandreou precisa renunciar e uma eleição deve ocorrer em seis semanas", declarou. "Papandreou faz que não entende o que estamos dizendo. Ele não governa nada mais aqui."

Papandreou chocou a Europa ao anunciar um referendo para saber se o povo grego apoiava o pacote de resgate ao país, aprovado há apenas uma semana. Teve de voltar atrás.

Pessoas ligadas ao partido de Papandreou - o Pasok - explicaram ao Estado que o primeiro-ministro se sentia isolado em seu país, carregando sozinho a responsabilidade pelos três pacotes de austeridade que significaram dias difíceis para a população. A oposição conservadora foi contra todos os pacotes e Papandreou decidiu então escancarar a crise convocando o referendo. Seus cálculos eram de que a população apoiaria o pacote no referendo, já que a alternativa seria justamente a expulsão da Grécia da UE. Assim, poderia dizer que seu governo havia sido legitimado.

Se o cenário não chegasse a votação em si, ele pelo menos obrigaria a oposição a sentar para negociar e declarar abertamente que também apoiava os pacotes de austeridade. Na prática, mataria a principal bandeira da oposição em uma eventual eleição, que seria o fato de ser contra a austeridade.

Mas analistas locais e grande parte da imprensa estima que o governo grego não pode ficar nas mãos de uma pessoa que não previa o impacto mundial de uma jogada de política doméstica. Para outros, a atitude não passou de um "minigolpe de Estado". Ou seja, convocaria o referendo para evitar convocar novas eleições.

Durante o dia, Papandreou sofreu uma rebelião do próprio gabinete e viu parte importante de sua maioria no Parlamento abandoná-lo. Para esta sexta-feira, apenas um acordo entre oposição e governo pode manter Papandreou no poder. Mas essa possibilidade está distante. A oposição insiste que apenas o apoiará se ele aceitar formar um governo de transição e convocar eleições. Hoje, Papandreou coloca seu governo à prova. Mas, pelo menos em Atenas, não está claro o que ocorrerá nem se ele vencer nem se perder.