Título: Sinopec pode ampliar fatia no pré-sal
Autor: Trevisan, Claudia ; Lima, Kelly
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/11/2011, Economia, p. B9

Se confirmados os rumores sobre aquisição de ativos da portuguesa Galp, petroleira chinesa se tornaria a principal parceira da Petrobrás

A possível aquisição de ativos da Galp no Brasil deve tornar a chinesa Sinopec a principal parceira da Petrobrás no pré-sal, ultrapassando a britânica BG. A notícia de que a Sinopec fecharia o acordo com a Galp vem de longa data, mas voltou a agitar o mercado com rumores de que o contrato entre as duas empresas estaria para ser fechado. Com a entrada da Sinopec, a Galp deve promover uma capitalização em torno de US$ 2,7 bilhões.

O diretor de relações com a mídia da Galp, Tiago Villas-Boas, não confirmou nem desmentiu o interesse dos chineses. "Já recebemos propostas firmes dos potenciais interessados, mas em nenhum momento revelamos quem são", disse ao Estado em entrevista por telefone.

Villas-Boas ressaltou que a operação não é uma venda de ativos, mas sim um aumento de capital para investimentos. "O dinheiro vai ficar no Brasil e será investido nos projetos que temos no País." O executivo não revelou qual será a participação do novo parceiro na subsidiária, a Petrogal Brasil, mas observou que ela será minoritária.

Além da fatia do campo de Lula - hoje com o maior poço produtor do País (27 mil barris por dia) e perspectivas de produzir 1 milhão de barris por dia no pré-sal -, a Galp também tem participação nas concessões de Bem-te-vi, Caramba, Júpiter e Iara.

Em operação semelhante à proposta para a Galp, a Sinopec adquiriu recentemente 40% dos ativos da espanhola Repsol no Brasil, comprometendo-se a investir cerca de US$ 7 bilhões nas áreas de Carioca, Guará, Abaré Oeste e Iguaçu.

A britânica BG participa com porcentuais maiores em quase todas as áreas citadas, incluindo o campo de Lula. Já a Sinopec terá a vantagem de ter parceria direta com a Petrobrás - sem a participação da BG - nas áreas de Bem-te-vi e Caramba.

Ofensiva global. Segunda maior importadora de petróleo do mundo, a China faz uma ofensiva global para assegurar suprimento do produto no longo prazo. Com o pré-sal, o Brasil entrou no radar dos chineses, que já são o segundo principal destino das vendas da Petrobrás.

A segurança energética é uma das principais preocupações do país asiático, que importa 53% do petróleo que consome. Estudos do governo indicam que o porcentual subirá para 65% até 2020. Dois terços do petróleo importado pela China vêm do Oriente Médio e da África, regiões sujeitas a turbulências políticas. Daí o interesse em diversificar suas fontes do produto.

O Brasil é um dos três países estratégicos para a Galp, ao lado de Angola e Moçambique, e respondeu em 2010 por 26% da produção da companhia, de 11,9 milhões de barris de petróleo/dia. A empresa está envolvida em 22 projetos no Brasil, nos quais explora 36 blocos, sendo o mais importante o campo de Lula.

No primeiro semestre, a Galp tinha anunciado a intenção de aumentar o capital no Brasil. Em outubro, o presidente da empresa, Manoel Ferreira de Oliveira havia confirmado que a disputa pelos ativos da estatal no País estava reduzida a três concorrentes. Além da Sinopec, os ingleses da BP e um consórcio com várias empresas do nordeste asiático, entre elas o grupo Sumitomo, Japex-Japan Petroleum Exploration, Intex, Knoc-Korea National Oil e Kogas (Korea Gas Corporation). A expectativa de Ferreira, na época, era de concluir o processo até o fim do ano. Mas, segundo a imprensa portuguesa, mais dois grupos chineses estariam interessados na operação: PetroChina e Cnooc. Outro concorrente seria a International Petroleum Investment Company, dos Emirados Árabes Unidos.