Título: Bancos públicos voltam a ampliar margem de lucro
Autor: Silva Júnior, Altamiro
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/11/2011, Economia, p. B10

Bancos públicos aproveitaram o bom momento da economia para recompor lucros nas operações de crédito em 2010.

Pesquisa anual do Banco Central mostra que a parte da margem financeira cobrada pelas instituições estatais - o chamado spread bancário - destinada ao lucro aumentou 20,4% em um ano. Nos privados, a parcela também cresceu, mas em ritmo menor: 5,2%. Mesmo com a expressiva alta, a parte do spread destinada ao ganho dos públicos ainda é menor que nos privados. A diferença, porém, nunca foi tão pequena.

Divulgado ontem, o Relatório de Economia Bancária e Crédito faz um diagnóstico da cobrança do spread nos empréstimos - que é a principal parte do juro pago nos financiamentos e, grosso modo, é a taxa desembolsada pelo cliente menos o custo que o banco teve para captar aquele dinheiro no mercado.

Em 2010, a cada R$ 100 pagos pelos clientes de bancos estatais em spread bancário, R$ 30,60 viraram lucro. A fatia é bastante superior à vista um ano antes, quando R$ 25,41 dessa margem eram destinados ao caixa de casas como o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal. Nos concorrentes privados, o lucro respondeu por 34,15% do spread em 2010, ante 32,47% um ano antes.

Efeito Selic. A decisão de aumentar a fatia destinada ao lucro tem relação direta com a política de juros decidida pelo Banco Central, diz o professor de finanças do Ibmec, Gilberto Braga. "Sempre que a Selic aumenta, há contração na oferta de crédito e, quem precisa de financiamento, está disposto a pagar mais caro.Por isso, há espaço para elevar os lucros", explica. Em 2010, com a inflação crescente, o BC aumentou o juro em 2 pontos porcentuais, para 10,75%.

No caso dos bancos públicos, explica Braga, o aumento foi ainda maior porque essas instituições decidiram recuperar o lucro após quase dois anos de margens reduzidas geradas pela política do governo de emprestar mais durante a crise de 2008/2009.

A pesquisa do BC mostra que, proporcionalmente, a fatia do spread que vira lucro nos bancos públicos foi 10,4% menor que nos privados. Essa é a menor diferença de apropriação de spread entre estatais e concorrentes privados desde o início da pesquisa, em 2004. Em 2009, por exemplo, essa diferença era de 21,7%. Na média, o spread dos bancos públicos ficou em 30,6 pontos em 2010 contra 34,15 pontos dos privados.

O lucro ainda é o principal destino dessa margem cobrada pelos bancos. Em seguida, aparecem os custos para cobrir prejuízos com a inadimplência, que consomem, na média do mercado, cerca de 28% do valor pago pelos clientes. Impostos são o destino de outros 22% e o restante da margem serve para o pagamento de custos administrativos e despesas./