Título: Governo marcado por sexo e corrupção
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/11/2011, Economia, p. B3

Em seu terceiro mandato, Berlusconi enfrentou denúncias de orgias com menores de idade e de abuso de poder, com prejuízos políticos

O terceiro mandato do primeiro-ministro italiano, Silvio Berlusconi, foi marcado por escândalos sexuais e denúncias de corrupção, que levaram o premiê a responder a quatro processos na Justiça italiana. No mais famoso deles, ele é acusado de ter pago para fazer sexo com uma prostituta menor de idade, a marroquina Karima el-Mahrough, e de usar sua influência para tirá-la da cadeia.

Berlusconi venceu as eleições de 2008 após a queda do governo de Romano Prodi, do Partido Democrático (PD). Sua coalizão, formada pelo seu partido Povo da Liberdade (PDL) e pela Liga Norte, derrotou o candidato da esquerda, Valter Veltroni, por 46,8% a 37,5% dos votos, com a promessa de dinamizar a economia italiana, a terceira maior da zona do euro, mas ainda bastante dependente do setor público.

Um ano depois de assumir o cargo, começou a onda de escândalos e denúncias contra o premiê. Em junho de 2009, Patrizia D'Addario, uma garota de programa de Bari, no sul da Itália, foi a público dizer que recebera 2 mil de Giampaolo Tarantini, um amigo comum entre ela e Berlusconi, para participar de orgias com o premiê.

O primeiro-ministro rejeitou as acusações e disse que nunca pagara por sexo em sua vida. O caso abriu a série de escândalos sexuais de Berlusconi. Gravações de conversas telefônicas começaram a vazar na imprensa e revelaram detalhes da vida privada do premiê, que em sua defesa disse ser vítimas de "fofocas" da imprensa esquerdista.

Bunga-bunga. Em novembro de 2010, a marroquina Karima el-Marough, conhecida como "Ruby Rouba Corações", disse ter recebido 10 mil para participar das festas na mansão de Berlusconi em Milão, quando ainda tinha 17 anos. Ela contou aos promotores do Ministério Público que cerca de 20 mulheres, todas jovens, participavam de um ritual erótico conhecido como bunga-bunga. A orgia, que teria sido ensinada a Berlusconi pelo ex-ditador líbio Muamar Kadafi, consistia em danças sensuais das mulheres nuas, que tentavam seduzi-lo.

No decorrer das investigações, os promotores descobriram que Berlusconi intercedera à polícia para libertar Ruby, presa sob acusação de furto no começo de 2010. Ele disse aos policiais que ela era sobrinha do ex-ditador egípcio Hosni Mubarak e sua prisão poderia causar problemas diplomáticos.

Em janeiro deste ano, a Justiça italiana revogou parte de uma lei aprovada em 2010, que dava imunidade penal ao premiê e alguns de seus ministros durante 18 meses. A decisão permitiu que os juízes de cada caso decidissem individualmente se Berlusconi deveria ser julgado ou não.

Com base nas evidências do caso Ruby e a perda de imunidade do premiê, a promotoria pediu o indiciamento de Berlusconi por pagar para fazer sexo com menores de idade e por abuso de poder em abril. Outras três denúncias, de corrupção e fraude fiscal, que haviam sido suspensas por uma lei de imunidade penal, foram retomadas em março, mas o premiê acabou inocentado em uma delas, o caso Mediatrade.

Perda de apoio. Os escândalos também provocaram prejuízos políticos. Em outubro do ano passado, o presidente da Câmara, Gianfranco Fini, aliado de longa data de Berlusconi rompeu com o premiê e formou um novo partido, o Futuro e Liberdade, que enfraqueceu a coalizão.

Desde então, Berlusconi tem sobrevivido a votos de confiança no Parlamento, à queda de popularidade e ao agravamento da crise econômica. Em fevereiro, milhares de italianos foram às ruas contra o premiê. Em maio, a esquerda foi a grande vencedora das eleições regionais. Agora, seu mandato está por um fio. / THE NEW YORK TIMES