Título: Pressão da UE derruba governo grego
Autor: Chade, Jamil
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/11/2011, Economia, p. B1

Até acordo entre partidos segue exigências da UE e eleições vão ocorrer só após país aprovar plano de austeridade para obter resgate

A Europa exigiu, a população pressionou e o governo de George Papandreou na Grécia caiu. Ontem, líderes políticos gregos chegaram a um acordo para a formação de um governo de união nacional na esperança de aprovar o pacote de resgate da União Europeia, impedir um calote total e evitar o caos financeiro no continente. Falta definir quem irá compor o governo. Líderes políticos entraram pela madrugada em negociações.

A saída de Papandreou foi confirmada para evitar um terremoto nos mercados hoje. O governo grego é o quinto a ser derrubado pela crise na Europa. Mas, desta vez, as condições para assumir o poder e até a data de novas eleições foram determinadas por Bruxelas.

Papandreou, que em 2009 foi eleito com a promessa de reduzir a pobreza, termina seu governo com meros 10% de apoio da população. Ontem, confirmou que não fará parte do novo governo e oficialmente entregará seu cargo depois de chegar a um acordo com a oposição sobre o novo chefe de governo. "Não posso deixar um vácuo", disse, antes de fechar o acordo.

Seu anúncio conclui uma semana de caos político gerado por sua decisão de levar o pacote de resgate a um referendo nacional, medida que enfureceu a UE e que tinha como meta evitar a convocação de eleições antecipadas. Ontem, a imprensa local indicava que o substituto seria Lucas Papademos, ex-vice-presidente do Banco Central Europeu, um tecnocrata apoiado pelos principais bancos europeus. Outros três nomes estavam na mesa de negociações.

O acordo ainda segue outra exigência da UE. Eleições serão convocadas, mas só depois de a Grécia aprovar no Parlamento seus compromissos de reformas exigidos pela UE para que 130 bilhões sejam liberados. Essa era uma exigência de Alemanha e França. Vários partidos gregos insistiam que queriam rever os termos do acordo. Em Atenas, a perspectiva é de que a eleição ocorra no final de fevereiro.

O ministro grego das Finanças, Evangelos Venizelos, pode permanecer no cargo. Considerado pessoa de confiança da UE, hoje vai a Bruxelas entregar aos demais ministros da zona do euro o compromisso de aprovação do pacote. Sem mostrar compromisso em cortar gastos, salários e pensões, a Grécia não receberá nem a parcela de 8 bilhões prevista para pagar as contas até o fim do ano, nem o pacote de 130 bilhões para 2012.

Tensão. O dia tenso ontem em Atenas começou com políticos fazendo declarações de guerra. Mas fontes no Parlamento grego revelaram ao Estado que logo entrou em ação uma ofensiva das capitais europeias, que exigiam um acordo antes da abertura dos mercados e da reunião de ministros de Finanças da UE em Bruxelas. A turbulência da semana passada já havia deixado as lideranças irritadas com Papandreou. Depois de fecharem acordo no dia 26 de outubro, que incluía o perdão de 100 bilhões da dívida, a UE e o mercado mundial foram surpreendidos com o anúncio de que queria um referendo. Paris e Berlim chegaram à conclusão de que a Grécia teria de ser colocada sob vigilância.

O recado foi reforçado ontem pelo comissário de Economia da UE, Olli Rehn. "Um governo de união é a única forma de restaurar a confiança", disse. Papandreou acabou desistindo da ideia do referendo. Mas Rehn deixou claro que a confiança já não existia entre ele e a UE. Assim, a manobra de Papandreou se transformou no último prego de seu caixão político.

Ontem, líderes europeus dispararam ligações para Papandreou exigindo um acordo. Mas ele não seria o único a sofrer a pressão. Antonis Samaras, líder do partido Nova Democracia, foi alvo de ameaças por parte de outros partidos conservadores europeus, que alertaram que, se ele não chegasse a um acordo, sua formação seria expulsa da aliança de partidos conservadores.

Samaras, que queria eleições imediatas, acabou cedendo. "Precisamos dar um sinal de estabilidade política", disse. Segundo ele, a oposição sai vitoriosa. "Queríamos eleições e a renúncia de Papandreou. Conseguimos as duas coisas", afirmou.

A pressão era também interna. Uma pesquisa mostrou que a maioria dos gregos queria o estabelecimento de um governo de união nacional, e não novas eleições. A Igreja Ortodoxa e empresários apelaram para que os políticos "assumissem suas responsabilidades". Os políticos alertavam que, sem um acordo, a segunda-feira seria um "inferno" nos mercados. "A incerteza está torturando o povo e precisa acabar", declarou o presidente grego, Karolos Papoulias. Coube justamente a ele a última reunião do dia. Papoulias convocou Papandreou e Samaras e um acordo foi fechado no início da noite para o alívio de Bruxelas.