Título: Família de premiê está na política há 50 anos
Autor: Chade, Jamil
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/11/2011, Economia, p. B12

No anos 60, George Papandreou, avô do atual primeiro-ministro, comandou a política da Grécia depois de o país sair arrasado da 2ª Guerra Mundial

Avó pobre, pai rico, filho miserável. Poucas vezes essa máxima foi tão adequada como agora para descrever a família Papandreou, que há décadas faz parte da história grega.

O que o pai criou, o filho desmontou. É assim que George Papandreou corre o risco de entrar para a história moderna da Grécia. Sua família dominou a política local na segunda metade do século 20.

O primeiro foi seu avô, que também levava o nome de George. Nos anos 60, ele governou durante uma séria crise institucional e conseguiu manter certa estabilidade em um país que acabava de sair totalmente arrasado da 2.ª Guerra Mundial e de uma Guerra Civil.

Depois veio Andreas, que colocou nos anos 80 as bases da Grécia moderna e iniciou a construção do estado de bem-estar social no país. Mas fez isso por meio de políticas populistas, distribuindo benefícios sem ter como pagar por eles. Consolidou-se no poder ainda graças à criação de uma ampla rede de clientelismo que fez o Estado explodir em tamanho. Hoje, cabe à terceira geração da família Papandreou desmontar tudo isso, justamente por estar falido.

Andreas Papandreou entrou para a história como o político que destinou milhões de dólares para esquemas sociais e criação de empregos, um mecanismo que lentamente se transformou em uma base de corrupção e ineficiência do Estado. Mas, na época de sua criação, era tido como a entrada da Grécia para a comunidade das nações civilizadas, depois de anos de guerras e confrontos internos. Não por acaso, sua popularidade era absoluta.

Suas políticas e seu carisma o garantiram 12 anos no poder e no comando do Movimento Socialista Panhelênico, que ele mesmo criou. A dívida pública explodiu durante seus anos. Mas era resgatada a cada tantos meses pelos novos fundos da União Europeia (UE) e investimentos de multinacionais.

O atual Papandreou tem uma história bem diferente. Não tem o mesmo carisma. Sequer nasceu na Grécia. Poderia ter sido candidato nos Estados Unidos. Com seis anos, sua família voltou para Atenas. Mas cinco anos depois, teve uma pistola apontada para sua cabeça pelo Exército, exigindo que contasse onde estava seu pai. Fugiram e só voltaram nos anos 70.

Quando assumiu o governo em maio de 2010, revelou que a dívida grega era muito maior do que se imaginava. Assinou todos os acordos que a UE e o FMI exigiram e recentemente admitiu que o país estava quebrado.

Mas colocou os gregos e Bruxelas em conflito. Internamente, acusava a UE de impor coisas que ele jamais aceitaria. Em Bruxelas, acusava seu país de corrupto.

Ontem, buscava um voto de confiança do Parlamento. Mas, nas ruas, já não o tinha da população e, em Bruxelas, havia perdido sua credibilidade com os demais líderes europeus.