Título: IDH das desigualdades faria País despencar 13 posições
Autor: Moura, Rafael Moraes
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/11/2011, Vida, p. A18

Índice paralelo criado pelo PNUD mostra que desigualdade social se mantém mesmo com redução da pobreza

Apesar dos avanços, o Brasil continua sendo um país desigual. Se a forma como a distribuição de recursos acontece fosse levada em conta, o País perderia 13 posições na classificação feita pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento Humano (PNUD). O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) cairia de 0,718 para 0,519 - uma nota menor do que a apresentada por, exemplo, pelo Gabão (0,543) ou Mongólia (0,563).

A desigualdade se mantém mesmo com a diminuição no número de pobres registrada nos últimos anos no País e tão comentada pelo governo.

O relatório mostra que apenas 0,2% da população está dentro do que o PNUD considera "grave pobreza multidimensional" - os mais miseráveis entre os miseráveis, aqueles que, além da baixa ou nenhuma renda, não têm também acesso à educação, saúde, moradia de qualidade, água potável e nem conseguem ser alcançados por programas como o Bolsa-Família porque, muitas vezes, nem sequer existem formalmente para o Estado.

A "pobreza multidimensional" atinge menos de 400 mil pessoas no País. No entanto, o número de pessoas que sofre privações diversas, seja de renda, seja de outros aspectos que definem uma vida precária, é significativamente maior: 5,1 milhões.

Ainda assim, entre os países com situações de desenvolvimento semelhantes ao brasileiro, os denominados Brics - além do Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul -, o Brasil tem, juntamente com a Rússia, o menor número de pessoas em pobreza grave, apesar de possuir um índice maior de famílias vulneráveis.

O ajuste pela desigualdade é feito por um indicador aplicado desde o ano passado pelo PNUD, o IDHD. Essa análise considera, além da média de desenvolvimento, as diferenças nos indicadores de renda, educação e saúde entre a população. Quanto maior a desigualdade, maior o desconto.

Por isso, países mais pobres, mas menos desiguais, alcançam notas superiores à do Brasil. A lista vai além de Gabão e Mongólia: República da Moldávia (0,569), Uzbequistão (0,544) e Jordânia (0,565), todos classificados como de desenvolvimento humano médio, ultrapassam o IDHD brasileiro.

O mesmo acontece com a China, companheira do Brasil no Brics. Em 101.º lugar no IDH, a nota do país, quando observada a desigualdade, supera a nota brasileira e chega a 0,534.

Peso da renda. O fator que mais contribui para a queda do Brasil no ranking do IDHD é a renda da população.

O desconto da nota brasileira é de 40,7% nesse quesito. Em segundo lugar vem o índice de educação, com perda de 25,7%. A menor desigualdade é registrada na área de saúde. Nesse item, a perda provocada no ajuste é de 14,4%.

O que chama atenção é o porcentual da perda na nota da renda. O Brasil é o terceiro em desigualdade nesta área entre o bloco de países de desenvolvimento alto. O desconto aplicado ao País neste quesito do IDHD só é menor que o da Colômbia (que teve sua nota reduzida em 53,9%) e o da Venezuela (com desconto de 44,9%).

O desempenho brasileiro no IDHD ano passado não foi diferente. A pontuação brasileira também caiu por causa da desigualdade. E, assim como no índice divulgado ontem, a maior responsável foi a diferença na renda da população, seguida por educação e saúde. O padrão é observado em todo o bloco de países de desenvolvimento humano muito elevado e de desenvolvimento humano elevado: conjuntamente, a renda é o principal fator de desigualdade, seguido por educação e, por último, a saúde.

Entre países de desenvolvimento humano médio e desenvolvimento humano baixo, essa lógica não se repete: a maior desigualdade é encontrada na educação. / LIGIA FORMENTI, LISANDRA PARAGUASSU e RAFAEL MORAES MOURA