Título: A crise internacional já afeta nossas exportações
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/11/2011, Economia, p. B2

A crise nos países desenvolvidos teria afetado o comércio exterior brasileiro em outubro? A pergunta cabe, mas convém lembrar que quando se trata de exportações há um prazo para que o negócio se concretize, seja nos produtos manufaturados ou nos semimanufaturados, e que é menor no caso dos produtos básicos. Pode-se considerar, por exemplo, que 70% das importações são negociadas com antecedência. Há pois um descasamento entre os valores das duas operações (exportações/importações), por causa dos diferentes prazos de negociação.

Nossas exportações aumentaram 20,5% em relação ao mesmo mês de 2010, diminuíram 0,2% em relação ao mês anterior pela média diária e cresceram 30,5% nos dez primeiros meses do ano. Esses excelentes resultados não devem, porém, nos levar a otimismo exacerbado. É que, de janeiro a outubro, foi graças ao aumento do preço das commodities - que hoje representam 48,0% das receitas da exportação, com crescimento de 39,0 % (pela média diária) - que melhoramos nosso desempenho.

A questão é saber se dada a evolução atual da economia mundial é possível continuarmos otimistas.

O Ministério da Indústria e Comércio Exterior divulga um quadro com 22 produtos para os quais fornece dados sobre o valor exportado, o volume, e o preço em relação ao mês anterior. Entre os 22 produtos, 6 são produtos manufaturados, 2 são semimanufaturados e 14 são produtos básicos. Verifica-se que 4 dos manufaturados apresentam uma redução de volume e de preços, por efeito da depressão dos países ricos. Os dois semimanufaturados acusam redução de volume e só um de preço, o alumínio, com redução de 54,4% de volume, o que mostra claramente a profundidade da crise.

No caso dos produtos básicos, 7 apresentam um aumento do volume exportado e em 6 houve ganho de preços, o que parece indicar que ainda existe uma escassez de commodities que exige uma importação da parte dos países estrangeiros. É o caso interessante do minério de ferro, que acusa uma redução de 2,9% no volume exportado, mas um aumento de 0,5% no preço. Pode-se prever que, em volume, a exportação do minério vai baixar, mas também seu preço, devido a um novo modelo de fixação de preços. Como nosso melhor comprador é a China, isso se traduziu por uma queda de 17,3% em outubro de nossas exportações. E o fato é que as vendas estão muito sensíveis à conjuntura internacional.