Título: Turquia diz que Dilma pressionará regime sírio
Autor: Chade, Jamil
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/10/2011, Internacional, p. A13

Segundo embaixador turco no Brasil, Itamaraty já admite censuras mais duras a Assad, embora siga contra sanções econômicas e intervenção militar

A visita da presidente Dilma Rousseff a Ancara deixou entre os turcos a convicção de que o Brasil chegou ao seu limite em relação à violência na Síria e estaria disposto a apoiar uma censura mais forte da comunidade internacional a Bashar Assad, afastando-se dos países do Ibas (Índia e África do Sul, além do Brasil). Segundo a diplomacia turca, a nova atitude brasileira teria ficado clara durante as reuniões de Dilma com as autoridades.

O governo da Turquia, que já havia adotado um tom mais intransigente em relação à Síria, comemorou o fato de que o Brasil estaria agora "no mesmo pé" da diplomacia de Ancara.

Os turcos indicaram que o País não estaria se negando a debater algumas restrições a armas e medidas pontuais para mostrar o desagrado. Mas o governo brasileiro é contra a adoção de sanções econômicas generalizadas e ainda discute como essa nova postura deve ser traduzida nos debates internacionais.

Segundo o embaixador da Turquia em Brasília, Ersin Erçin, Dilma teria insistido nos encontros que considerava a violência na Síria como "inaceitável".

Brasil e Turquia vinham mantendo posições diferentes em relação à Síria e, segundo o Palácio do Planalto, isso chegou a afastar os dois países. Ancara, que por anos nutriu boas relações com Assad, afastou-se diante da violência. O presidente turco, Abdullah Gul, na reunião com Dilma, disse ter alertado pessoalmente o sírio a fazer reformas e liberalizar o regime. Mas não foi ouvido.

Já o Brasil adotou uma posição de maior cautela, principalmente para não fechar as portas para o diálogo com Assad. Os turcos interpretaram as colocações de Dilma como um reconhecimento de que esse posicionamento precisaria ser revisto.

"Estamos agora no mesmo passo", disse o embaixador turco no Brasil. "O cenário está mudando e o Brasil deu sinais de ter rompido com o Ibas", afirmou.

Membros do governo brasileiro que conversaram com o Estado afirmaram que a questão agora será como traduzir na ONU essa perda de paciência. O Brasil continua a rejeitar qualquer possibilidade de uma intervenção estrangeira para frear a violência. Fontes no Palácio do Planalto garantem que essa é uma posição que tanto Dilma quanto o ministro da Defesa, Celso Amorim, o chanceler Antonio Patriota e o assessor internacional da presidência, Marco Aurélio Garcia, compartilham.

O que não é tão claro é a atitude em relação às violações de direitos humanos e sanções. O Itamaraty insiste que não pode usar os abusos cometidos pelo regime de Assad como instrumento para justificar a queda do governo. Na sexta-feira, na ONU, o Brasil adotou uma posição de neutralidade ao falar da situação das violações aos direitos humanos. Criticou a violência, mas pediu para que todas as partes no conflito cheguem a um acordo. No Conselho de Segurança da ONU, o governo também mantém a posição contrária a sanções.