Título: França e Bélgica vão resgatar Dexia
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Fonte: O Estado de São Paulo, 10/10/2011, Economia, p. B3

Maior banco da Bélgica é a primeira instituição do continente a precisar de ajuda; belgas terão de desembolsar pelo menos 4 bilhões

A crise europeia de endividamento atingiu ontem um novo marco quando os governos da França, da Bélgica e de Luxemburgo concordaram em nacionalizar o Dexia, o maior dos bancos belgas, injetando nele bilhões em dinheiro do contribuinte depois de a instituição ter se tornado a primeira baixa da crise grega de endividamento soberano.

A decisão foi anunciada enquanto a chanceler alemã, Angela Merkel, e o presidente francês, Nicolas Sarkozy, reconheciam que os bancos europeus ainda precisarão de muitos bilhões de euros para se proteger contra uma possível moratória grega. Em reuniões realizadas ontem em Berlim, eles anunciaram que apresentarão uma "solução abrangente" quando os líderes do G-20 se reunirem no início de novembro em Cannes, na França. "Estamos determinados a fazer tudo aquilo que for necessário para garantir a recapitalização de nossos bancos", disse Merkel. Mas eles se negaram a divulgar detalhes do funcionamento da proposta.

Num exemplo de como a preocupação com os bancos europeus se tornou aguda, governantes correram para dar sustentação ao Dexia antes da abertura de hoje dos mercados financeiros globais para evitar que a preocupação dos investidores se estendesse a outros bancos.

Durante uma longa reunião iniciada ontem, representantes dos governos da Bélgica, da França e de Luxemburgo aprovaram o plano de resgate do Dexia. O primeiro-ministro belga, Yves Leterme, confirmou o resgate. No entanto, o conselho administrativo do banco e o Conselho de Ministros também precisavam aprovar o plano antes de implementá-lo.

Na operação de resgate amarrada pelos governos, a Bélgica entrará com 4 bilhões para comprar a parte belga do banco. A França, por sua vez, segundo os jornais europeus, deve desembolsar cerca de 700 milhões e ficará com a fatia francesa da instituição, chamada de Dexia Municipal Agency (DMA). O acordo prevê ainda a criação de um "banco residual" que assumirá cerca de 90 bilhões de ativos podres, que serão garantidos pelo governo belga (60%), francês (36,5%) e luxemburguês (3,5%).

O Dexia é "o maior caso de concordata de um banco da zona do euro em anos", disse Peter Zeihan, vice-presidente de análise da Stratford, empresa de análise de risco geopolítico . "Isto vai obrigar os investidores e acionistas a dar uma nova olhada naquilo que consideravam estável."

Os bancos europeus se tornaram um ponto crítico para os governos do continente enquanto estes tentam controlar os problemas de endividamento. Apenas recentemente Merkel, Sarkozy e outros reconheceram que os bancos europeus podem não estar tão protegidos quanto pensavam, especialmente se a crise grega contaminar países maiores. Se isso ocorresse, outros bancos na Europa e nos Estados Unidos - além dos próprios governos - poderiam ver-se submetidos a uma pressão intensa. / AGÊNCIAS INTERNACIONAIS