Título: Alta do IPI elevou em 10% as vendas de importados
Autor: Silva, Cleide
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/10/2011, Economia, p. B4

Consumidores correram às lojas para comprar carros em estoque antes do repasse do aumento do tributo

As vendas de carros importados por empresas que não têm fábricas no Brasil aumentaram 10,5% em setembro na comparação com agosto, totalizando 22.569 unidades.

Para a Associação Brasileira das Empresas Importadoras de Veículos Automotores (Abeiva), a alta ocorreu porque muitos consumidores decidiram antecipar a compra para escapar do aumento de 30 pontos porcentuais para o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), anunciado em meados do mês passado pelo governo federal, e houve uma corrida às concessionárias.

Na comparação com setembro de 2010, as vendas de importados subiram 90,8%. No acumulado do ano, a alta é de 108,9%, com um total de 151.850 veículos, o equivalente a 5,6% dos 2,68 milhões de veículos novos vendidos em todo o País de janeiro a setembro.

Somando carros importados pelas montadoras, a maioria trazidos da Argentina e do México, que não são afetados pela alta do IPI, a participação de modelos feitos fora do Brasil nas vendas foi de 22,7%. No mesmo período, os negócios com carros nacionais cresceram 1,1% ante o ano passado, atingindo 2,072 milhões de unidades.

"Nossos volumes de vendas a partir deste mês tendem a cair, cujas projeções são de difícil previsibilidade", afirmou em nota o presidente da Abeiva, José Luiz Gandini. De acordo com ele, antes das medidas protecionistas a previsão da entidade era de vendas de 16 mil a 18 mil veículos em setembro.

Regras do jogo. O presidente da Abeiva prevê "meses difíceis" para os importadores independentes até o fim de 2012, quando está prevista a suspensão do aumento do IPI.

"Mas, cada qual à sua maneira, as filiadas vão permanecer ativas no mercado brasileiro", informou. "Vamos tentar majorar com o menor porcentual possível, já pensando em 2013. Espero que não mudem as regras do jogo ao final do prazo", afirmou Gandini.

A Abeiva representa 27 marcas, várias delas de produtos de alto luxo como Ferrari, Aston Martin e Jaguar. Também são associadas as chinesas JAC, Chery e Lifan/Effa, que têm planos de construir fábricas no Brasil, assim, como a alemã BMW.

A JAC e a BMW já apresentaram seus planos de produção local ao ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, na tentativa de convencer o governo a rever a medida para as empresas que vão se instalar no País. O governo ficou de avaliar os pedidos.

A Chery obteve uma liminar da Justiça que a protege do aumento do IPI por prazo de 90 dias.

Retrocesso. O professor de Relações Internacionais e Finanças Públicas da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Fernando Zilveti, disse não ter dúvidas de que o Brasil será condenado na Organização Mundial do Comércio (OMC) pela medida de proteção à indústria automobilística.

"O precedente da OMC tem sido o de condenar medidas como esta", afirmou Zilveti. Ele ressaltou, contudo, que uma decisão por parte do órgão pode demorar mais de um ano e que, até lá, a medida pode ter sido suspensa, conforme já ocorreu em outros contenciosos.

"Não há nenhuma razão para o Brasil adotar esse tipo de medida que estabelece diferença de tratamento entre empresas nacionais e estrangeiras, pois o País não passa por situação de emergência e nem vive uma crise", afirmou Zilveti. "Foi um retrocesso nas relações internacionais."

Em recente entrevista, o presidente da General Motors América do Sul, Jaime Ardila, lembrou que em todos os países onde há uma indústria automobilística forte existe algum tipo de proteção, "inclusive naqueles que mais reclamam pela abertura, como Coreia do Sul e China". Na China, uma empresa só pode atuar em parceria com fabricantes locais e o índice de nacionalização exigido é de 90%.