Título: Ocupantes de Wall Street ficam
Autor: Netto, Andrei
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/10/2011, Economia, p. B12

Após ameaça de expulsão, manifestantes seguem em praça; conflito com a polícia de NY faz 14 presos

Depois de conseguirem não ser desalojados pela polícia do parque onde estão concentrados em Nova York, os ocupantes de Wall Street querem ver o movimento se espalhar para mais de 950 cidades em 82 países hoje, incluindo São Paulo, segundo os organizadores.

Durante a madrugada de ontem, havia muita tensão entre os manifestantes. Eles temiam que o governo levasse adiante a ordem para a retirada deles do parque a pedido da empresa Brookfield, proprietária do local. Em Nova York, algumas áreas públicas pertencem a entidades privadas que zelam pela conservação. Este é o caso do Zuccotti, a alguns quarteirões de Wall Street e também do World Trade Center.

Segundo os proprietários e a prefeitura, era necessário fazer uma limpeza. Posteriormente, os manifestantes poderiam retornar, mas sem seus colchões e sacos de dormir. Para evitar a medida, os ocupantes organizaram durante a noite anterior um mutirão para limpar a praça, onde estão acampados há mais de três semanas.

Cerca de 40 minutos antes do início da operação da polícia para retirá-los, a prefeitura informou que havia chegado a um acordo com os proprietários e os manifestantes poderiam ficar. Houve enorme celebração na praça, enquanto ainda amanhecia o dia.

Minutos depois, centenas de manifestantes saíram em marcha para mais um dia de protesto contra o sistema capitalista. No caminho, houve confusão e pelo menos 14 pessoas foram presas. Na semana passada, a polícia chegou a prender 700 em apenas um dia.

Segundo o site da ocupação de Wall Street, havia 3.000 pessoas na praça Zuccotti, apelidada de "Liberdade" por eles. Presente no local, o Estado calcula que o número era de no máximo metade deste total.

"A Brookfield e (o prefeito Michael) Bloomberg precisaram ceder e nosso movimento está crescendo porque pedimos justiça econômica", afirma texto no site do movimento. "Estamos vencendo e Wall Street está perdendo", acrescentaram.

Sem uma mensagem clara, os manifestantes da Ocupação de Wall Street dizem ser integrantes dos 99% da população que, segundo eles, "não tolera mais a cobiça e corrupção dos outros 1%". A inspiração do movimento é a Primavera Árabe e os protestos dos indignados, da Espanha.

Na realidade, segundo comentaristas, a prefeitura optou por não entrar em choque temendo que a ação apenas aumentasse a popularidade do grupo. A ocupação passou a ganhar destaque justamente depois de operações policiais que resultaram na prisão de dezenas e mesmo centenas de manifestantes.

Os manifestantes organizarão hoje um mega evento em Times Square, simultaneamente com outros países. Brasileiros que participam da ocupação em Nova York demonstravam ceticismo com a atitude de alguns partidos, como o PSTU, de tentar se envolver no ato em São Paulo, hoje. Segundo eles, o movimento é apolítico e a presença de bandeiras partidárias reduziria a importância do ato.