Título: Demissão em massa, o 1º fracasso de Raúl
Autor: Cavalheiro, Rodrigo
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/11/2011, Internacional, p. A10

Intenção de demitir 500 mil pessoas até abril foi abortada, por uma silenciosa e incomum rebelião dentro do funcionalismo

Alejandro Ernesto/EfeFalha principal do governo foi anunciar a demissão sem dar nome aos demitidos A anunciada redução em massa de funcionários representa o fracasso mais claro do pacote de medidas econômicas anunciado pelo presidente Raúl Castro neste ano - embora caminhe devagar, a venda de carros e de casas tende a reduzir a informalidade no longo prazo.

Apesar de ter superado a expectativa do governo cubano, a multiplicação de "cuentapropistas", como são chamados os microempresários em Cuba, e de seus negócios é inexpressiva se o objetivo for absorver os 1,3 milhão de empregados públicos do país que o próprio Estado considera "demais" e tem intenção de demitir até 2015.

Até mesmo a intenção de demitir 500 mil pessoas até abril foi abortada, por uma silenciosa e incomum rebelião dentro do funcionalismo - uma camada fortalecida em número e quadros ao longo de cinco décadas de regime.

A falha principal do governo, afirmam dois militantes do Partido Comunista Cubano, foi anunciar a demissão sem dar nome aos demitidos. Cada empresa pública recebeu ordem de cortar, a seu critério, um determinado número de empregados em certo prazo. Como o critério dos chefes nem sempre foi o da produtividade, parte dos que ficariam empregados nessa primeira leva de cortes não só opinou, como se opôs ao apadrinhamento.

No leste de Cuba, a parte mais pobre e exposta à crise econômica da ilha, alguns núcleos descontentes chegaram a entoar a palavra "huelga" (greve, em espanhol), ausente por imposição do dicionário cubano (até mais do que "lucro"). As greves estão proibidas na ilha. Mas o rápido recuo do governo no plano de demissões sugere que esse ato "antirrevolucionário" nunca esteve tão perto de ocorrer nas últimas cinco décadas.