Título: A divisão de recursos precisa ser repensada
Autor: Mandelli, Mariana
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/11/2011, Vida, p. A14

Leia entrevista com Julio Cezar Durigan, reitor em exercício da Unesp

O reitor em exercício da Unesp, Julio Cezar Durigan, afirma que a instituição precisa de uma porcentagem maior da verba concedidas às universidades estaduais. Ocupando o cargo desde que Herman Voorwald foi nomeado secretário estadual de Educação, Durigan é presidente do Conselho de Reitores das Universidades Estaduais de São Paulo (Cruesp). Leia trechos da entrevista dada ao Estado:

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Werther Santana/AEDurigan é professor titular da Unesp desde 1997 A Unesp já tem uma graduação sólida. A instituição chega aos 35 anos com qual foco?

A Unesp tem naturalmente uma vocação de interagir com a comunidade social e cultural, técnica e economicamente. Isso ela não consegue deixar de fazer. Cada unidade tem importância até mesmo no orçamento dos município. Sempre teremos pedidos das unidades e de políticos querendo criar novos cursos. Mas o que estamos fazendo agora é reduzir essa expansão, mantendo a qualidade e aumentando o foco para o exterior.

Por quê?

Por ser do interior, a Unesp esqueceu um pouco o lado internacional, pois se preocupou em dar solidez à graduação e qualidade à pós. Por volta de 2002, houve um aumento grande, de 38 cursos, e trabalhamos nisso até hoje. Agora estamos sedimentando o processo, com a formação das primeiras turmas e boas avaliações.

As dificuldades desses novos câmpus foram superadas?

Todas as unidades novas, até as chamadas consolidadas, tiveram os problemas que os campos experimentais têm. Todo câmpus novo não tem a estrutura que realmente precisa. Mas isso vai se resolvendo. A universidade investe, os professores fazem projetos e conseguem dinheiro dos órgãos de fomento. É um processo - todas as unidades começaram com dificuldades e foram se firmando. Das novas, muitas já têm uma boa biblioteca, salas de aula, laboratórios.

É difícil atrair professores de qualidade para cidades muito pequenas?

Não. Temos tido uma procura grande nos concursos. Mesmo com exigências, atraímos quem têm vocação e quer trabalhar em uma boa universidade pública.

Unidades grandes, como Bauru, não tinham requisitos básicos, como moradia estudantil. Como está esse processo?

Bauru é o melhor exemplo. É um câmpus grande e complexo, com demandas que precisavam ser atendidas, como a piscina para o curso de Educação Física. Agora temos um centro aquático, que será usado nas Olimpíadas. Iniciamos a construção de um restaurante universitário e estamos terminando uma moradia estudantil. Para os outros câmpus, fizemos um plano de obras para três anos: 2010, 2011 e 2012. Estamos priorizando as necessidades das unidades, indicadas por elas mesmas, investindo R$ 300 milhões. Isso faz a diferença na estrutura. Além disso, o Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI) trouxe planejamento para a Unesp.

O que o senhor acha da fama de "prima pobre" da Unesp?

Quando as universidades receberam autonomia, em 1989, dividiu-se o porcentual do ICMS para as três. Na época, a USP ficou com 5,02% dos 9,57%, porque já era uma "senhora" experiente. A Unicamp era uma adolescente que já sabia o que queria e ficou com 2,19%. Mas a Unesp era um bebezinho. Éramos uma instituição muito jovem, junção de 14 unidades dispersas, com menor força política. Ficamos com 2,34%. Mas a Unesp de 22 anos atrás não é a de hoje. A divisão precisa ser repensada. A USP tem mais do que a soma da Unesp e a da Unicamp - e hoje ela não é muito mais do que as duas juntas. O governo diz que só muda isso na Assembleia se o Cruesp enviar a proposta. O tema ainda é muito difícil e nunca se formalizou uma. Mas hoje já existe uma discussão maior da Unesp com a Unicamp sobre isso.