Título: Berlusconi diz que ainda quer voltar ao governo
Autor: Chade, Jamil
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/11/2011, Economia, p. B3

Um dia após a renúncia, ex-primeiro-ministro italiano se diz "orgulhoso" do trabalho que fez em sua gestão Humilhado pelas ruas, pelo mercado internacional e pelos líderes em Bruxelas, onde se reúne a cúpula da União Europeia. Ainda assim, Silvio Berlusconi não se dá por vencido e inaugurou seu primeiro dia fora do governo com ataques e insinuando que seus dias no foco da política italiana não acabaram.

Ontem, o ex-primeiro ministro da Itália indicou que quer voltar a governar o país, acusou seus inimigos de terem feito "chantagem" para garantir sua queda e se disse "orgulhoso" do trabalho que fez.

"Reivindico com orgulho o que conseguimos fazer nestes três anos e meio de governo, marcados por uma crise internacional sem precedentes na história", escreveu Berlusconi em uma carta enviada ao partido A Direita, um de seus aliados.

No documento, Berlusconi insiste que não vai abandonar a luta política e deixou claro seu desejo de voltar ao governo do seu país. "Seguimos adiante com a ideia de que a maioria votada pelos italianos tinha o direito e o dever de governar mas, ao final, reinou no Parlamento a lógica das pequenas chantagens, dos foragidos, um vício antigo da política italiana", afirmou, ao tentar justificar sua queda.

"Compartilho de seus sentimentos e desejo que retomemos todos juntos o caminho para voltar a governar", escreveu Berlusconi em sua carta.

Enquanto diversos partidos políticos mergulhavam em consultas ontem para a formação do novo governo, analistas, observadores estrangeiros e meros eleitores questionavam até que ponto a queda de Berlusconi no sábado de fato representa o fim de sua carreira política.

Uma sondagem publicada na imprensa local ontem revelou que se as eleições fossem marcadas para amanhã, a direita italiana ainda levaria 35% dos votos. Não se trata de uma maioria, mas é um porcentual suficiente para mostrar que Berlusconi ainda teria certa influência nas deliberações do Parlamento, principalmente diante dos favores que muitos representantes da Câmara de deputados ainda devem para ele.

Em sua carta ao partido aliado, Berlusconi fez questão de defender sua gestão, apesar das críticas internacionais e de deixar como herança um país em profunda recessão. "O país deu muito, muitíssimo em termos de rigor econômico, o que aceitou com grande sentido de responsabilidade e sacrifício com as medidas de julho e agosto", escreveu Berlusconi.

O ex-primeiro ministro fez ainda questão de repetir seu mantra dos últimos meses de que, em termos de dívida pública e poupança privada, a Itália se coloca no segundo lugar entre os países da Europa "imediatamente depois da Alemanha, antes da Suécia, Reino Unido e dos demais".

"A Itália conta com empresas que exportam, com um desemprego inferior à média europeia, com o maior patrimônio artístico do mundo e se espera que todo o mundo político, todos, façam um esforço para sair da crise", concluiu.

Criminosos. Enquanto Berlusconi lançava seus ataques, os jornais, rádios e TVs de sua propriedade também entravam na ofensiva. A grande maioria questionava a capacidade de Mario Monti de tirar a Itália do caos e alertava os ouvintes de que o novo escolhido é um ex-banqueiro e parte de uma elite internacional de economistas que passou a controlar as finanças do Velho Continente.

Monti faz parte do conselho do Goldman Sachs, assim como fez Mario Draghi, atual presidente do Banco Central Europeu. "Esse é o grupo de criminosos que nos levaram à situação em que estamos", escreveu Alessandro Sallusti, editor do Il Giornale, um dos diários pertencentes a Berlusconi. / J.C.

-------------------------------------------------------------------------------- adicionada no sistema em: 14/11/2011 11:08