Título: Governo vê investimento a 21% do PIB
Autor: Otta, Lu Aiko
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/11/2011, Economia, p. B4

Caso previsão do secretário executivo do Ministério da Fazenda, Nelson Barbosa, seja confirmada, taxa vai superar o resultado de 2010

A taxa de investimento público e privado no Brasil deverá ficar entre 19,5% e 21% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2011, nas estimativas feitas pelo secretário executivo do Ministério da Fazenda, Nelson Barbosa. Ela deverá ser maior do que a registrada em 2010, mesmo diante da cautela adotada pelo setor privado por causa da crise internacional.

Estímulos dados pelo governo federal, como o programa Minha Casa Minha Vida e os empréstimos subsidiados do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), deverão garantir esse desempenho favorável.

O número é mais otimista do que a estimativa preliminar disponível no momento, que é de 18,8% do PIB. A melhora não se deve a um repentino surto de investimentos, mas a uma questão numérica. "Mudou a régua", resumiu o secretário ao Estado.

Na semana passada, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revisou as contas nacionais de 2009 e concluiu que a taxa de investimento naquele ano foi de 18,1% do PIB, e não 16,9% do PIB, como divulgado anteriormente. Com isso, a taxa de 2010 também foi beneficiada, pois ela já partiu de uma base maior.

"A taxa de 2010 é pelo menos 1,2 ponto porcentual maior do que a gente achava antes", comentou Barbosa. Como em 2011 os investimentos foram maiores que no ano passado, o resultado também tende a ser maior.

Motor. Este ano, os investimentos foram impulsionados pela prorrogação do Programa de Sustentação do Investimento (PSI), do BNDES, que dá empréstimos com juros baixos a empresas. Além disso, as construções da primeira etapa do programa Minha Casa Minha Vida estão "em plena operação".

Empresas do setor de transportes também anteciparam a compra de caminhões, pois no ano que vem entrará em vigor o chamado padrão euro 5, que vai exigir novos equipamentos e encarecê-los.

Barbosa reconhece, porém, que o desempenho do setor público ficou aquém do registrado em 2010. Naquele ano, a União e a Petrobrás investiram o equivalente a 3,1% do PIB. Este ano, deverá ficar em 2,7% do PIB.

A queda se deve à revisão do programa de investimentos da estatal e a uma pausa feita no Ministério dos Transportes para "revisão de custos".

Já o Minha Casa Minha Vida sofreu uma pausa em novas contratações, porque o governo mudou os requisitos das habitações aceitas no programa, exigindo acessibilidade a deficientes e aquecimento solar.

Desaceleração geral. Na verdade, a desaceleração dos investimentos pode ser constatada em todas as pastas, segundo mostra levantamento da Associação Contas Abertas.

No orçamento deste ano, estão previstos investimentos de R$ 66,5 bilhões. Porém, até agora, só R$ 27,4 bilhões desse total, ou 41,2%, cumpriram a primeira etapa do gasto público, que é o empenho, ou seja, o comprometimento da verba com um determinado contrato. Desses, apenas R$ 9,7 bilhões foram desembolsados.

Este ano, o governo se dedicou mais a pagar as contas deixadas pela gestão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Foram quitados R$ 22,1 bilhões, totalizando investimentos de R$ 31,8 bilhões.

O secretário executivo do Ministério da Fazenda acha pouco importante o fato de o nível de empenho estar baixo. "Dá para empenhar mais até o fim do ano", disse. Ele garantiu que não haverá atraso nos investimentos por causa disso.

"Para o ano que vem, esperamos um forte aumento do investimento", afirmou o secretário. Barbosa aposta no início da segunda etapa do programa Minha Casa Minha Vida.

Se tudo correr como o planejado e se a crise global não se agravar, acredita o secretário, o setor privado voltará a investir no segundo semestre, após constatar que o esfriamento da economia será menor do que o esperado hoje.