Título: O afrouxamento do crédito não é isento de riscos
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/11/2011, Economia, p. B2

O governo decidiu afrouxar as medidas macroprudenciais de controle do crédito adotadas no final do ano passado, a fim de combater os sintomas de desaceleração da atividade, sobretudo da indústria. Decisão que não está isenta de risco.

A Circular 3.563 do Banco Central (BC) reduziu as exigências de capital de bancos e financeiras para o crédito ao consumidor, estimulando o financiamento de veículos e a concessão de crédito pessoal, inclusive consignado. Além disso, aliviou o aperto sobre os cartões de crédito: foi cancelada a regra que elevava o pagamento mínimo da fatura, a partir do mês que vem, dos 15% atuais para 20%.

O efeito maior das medidas será sobre as operações com prazo entre 37 e 60 meses, as mais desoneradas. Já as operações de prazo superior a cinco anos, que chegaram a ser usuais no mercado de veículos até 2008, terão maiores exigências. Ao coibir financiamentos de prazo muito longo, o Banco Central adota uma política conservadora, cabendo indagar se o setor de veículos tem necessidade de algum afrouxamento creditício.

Os bancos, a partir de agora, precisarão de menos capital para conceder empréstimos. É um sinal importante de afrouxamento do crédito que deverá induzir as instituições a ofertar mais empréstimos, sendo até possível algum alívio nas taxas ativas, cobradas dos tomadores.

Além disso, perdem sentido os limites à expansão do crédito, que justificaram as medidas macroprudenciais e previam reduzir o ritmo de crescimento das operações para 15% ao ano.

O êxito das mudanças dependerá da atitude dos bancos no exame da qualidade dos créditos oferecidos, pois, como já se constata certo aumento da inadimplência, a prudência agora é importante para a segurança de todo o sistema bancário.

Também os tomadores deverão manter a prudência que exibiram nos últimos meses ao tomar crédito. Afinal, o País não escapará de ser, em algum grau, afetado pela crise global.

As regras confirmam o entendimento de que a inflação deixou de ser a maior preocupação do governo, cedendo lugar à perda do ritmo da atividade. O BC parece convencido de que a inflação oficial de 6,97% em 12 meses, até outubro, entrará em declínio. A questão central é fortalecer a economia não apenas neste fim de ano, mas em 2012, um ano de eleições municipais.

Mas, ao liberar crédito em prazo de até 60 meses para tentar reforçar o ritmo de crescimento econômico, o governo induz a um aumento da liquidez da economia, o que acabará por ajudar, indiretamente, a sancionar os aumentos de preços.