Título: Mudança política na Itália e Espanha não convence investidor
Autor: Netto, Andrei
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/11/2011, Economia, p. B6

Fim das gestões de Berlusconi e Zapatero eleva ágio de títulos dos dois países; crise europeia é a pior desde a 2ª Guerra, diz Merkel

A pressão dos investidores contra a Itália e a Espanha voltou a crescer ontem nos mercados financeiros da Europa. Em um sinal de que os investidores continuam apostando na instabilidade política nos dois países - o primeiro com um novo governo e o segundo com eleições previstas para o fim de semana -, o ágio pelos papéis voltou a superar a casa dos 6% ontem. O custo da falta de credibilidade é elevado: só a Espanha espera refinanciar € 7,5 bilhões nesta semana.

Ainda sem uma resposta definitiva sobre o novo governo italiano, as bolsas das principais capitais voltaram a fechar no vermelho. O pior desempenho entre as maiores economias foi registrado em Madri, onde o índice Ibex 35 caiu 2,15%. A pressão foi motivada pela iminência de sucessão política no país, que realiza no domingo eleições parlamentares para definir o substituto do atual primeiro-ministro, José Luis Rodríguez Zapatero.

Sob esse pretexto, o ágio cobrado pelos investidores pelas obrigações soberanas subiu ontem, voltando ao nível recorde - e crítico - de 6%, em uma semana carregada para o Tesouro. O governo precisa refinanciar hoje entre € 2,5 bilhões e € 3,5 bilhões com validade de 12 a 18 meses, além de € 3 bilhões a € 4 bilhões com prazo de 10 anos na quinta.

Também sob o impacto da instabilidade política, o índice MIB da bolsa de Milão fechou em forte baixa ontem: 1,99%. O desempenho ocorreu no dia em que o Tesouro italiano conseguiu refinanciar € 3 bilhões no mercado de obrigações, mas pagando caro: 6,29% contra 5,32% cobrado por papéis similares em outubro, aproximando-se do patamar de sexta-feira, de 6,43%.

Ainda em negociações com as diferentes correntes políticas para a formação de um governo de união nacional, o provável futuro primeiro-ministro, Mario Monti, demonstrou preocupação com a conjuntura, evocou a "urgência" de reformas no país e pediu voto de confiança aos mercados. "O país deve se tornar um dos pontos fortes, e não um dos pontos fracos da União Europeia, bloco do qual fomos um dos fundadores." Em seu discurso, Monti prometeu "sanear a situação financeira e recuperar o caminho do crescimento".

A dificuldade de Monti é criar um gabinete de união nacional, como defende o presidente da Itália, Giorgio Napolitani. Ontem, as negociações seguiam intensas em Roma para a montagem do governo, que em tese terá membros da Liga Norte, partido de extrema direita, e do Partido Democrático, de centro esquerda, além do Partido da Liberdade, o maior partido da base de sustentação do governo.

Diante do impasse político na Itália, o presidente da Comissão Europeia, o português José Manuel Durão Barroso, pediu união e convergência de interesses aos partidos para que encontrem uma solução rápida. Bruxelas pressiona a Itália, como também a Grécia, para por em prática as medidas de austeridade que foram aprovadas ao longo de 2011, de forma a conter o contágio da crise, que já ameaça a França e sua nota AAA. Ontem, em discurso aos correligionários do Partido Democrata-Cristão, a chanceler da Alemanha, Angela Merkel, afirmou que a crise atual é a pior desde 1945. Ela definiu o momento atual como um "teste histórico" e "ponto de virada" para o bloco econômico.